A Comissão da Verdade do Pará tem motivos de sobra para avançar nas investigações sobre a penetração econômica na Amazônia, de grupos nacionais e estrangeiros, e jogar luz sobre a violência perpetrada contra trabalhadores rurais nos sertões do sul do Pará.
Por Paulo Fonteles Filho e Marcelo Zelic
O assassinato de 60 camponeses pelo Grupo Bradesco, em 1974, em Conceição do Araguaia/PA, fato este totalmente desconhecido da sociedade paraense e nacional, está registrado em um documento do Fundo Divisão de Segurança e Informação do Ministério da Justiça (DSI-MJ), disponível, e pouco estudado, no acervo recolhido pelo projeto Memórias Reveladas do Arquivo Nacional.
Em correspondência de 05/06/1974, o então Chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI) e membro do Conselho de Segurança Nacional (CSN), General João Batista Figueiredo, que viria a suceder Geisel, envia documento confidencial ao Ministro do Interior, Maurício Rangel Reis, notificando os “problemas de terras em Conceição do Araguaia no Pará”.
A informação encaminhada pelo CSN à Presidência da República, foi objeto de despacho em 05/07/1974, consultando o Ministro sobre a pertinência de “encaminha-los [os documentos] ao grupo de trabalho sobre posse e ocupações de terras, em via de formação no Ministério”.
O episódio revelado pelo ex-presidente Figueiredo sugere a omissão do Governo do Estado do Pará “particularmente no que se refere à atuação da Secretaria de Segurança Pública e da Justiça Estadual. A Secretaria de Segurança e o Judiciário são acusados de omissão e conivência com os autores das arbitrariedades na região”. (grifo nosso)
No informe do então Chefe do SNI é citada a pratica de graves violações de direitos humanos por parte da empresa. “Existem na área quatro grandes fazendas do Grupo BRADESCO. Através de “gateiros”, os representantes do Grupo BRADESCO contratam trabalhadores para realizar as derrubadas, submetendo-os a um regime de trabalho escravo e a torturas”. (grifo nosso)
A Policia Federal, segundo conta o general, “já realizou uma investigação que levou à conclusão que um dos administradores de uma dessas fazendas, de nome AIGO HUDSON PYLES, é responsável por torturas aplicadas nos trabalhadores. O nominado mantém sob suas ordens um grupo de cangaceiros e conta com a proteção do Delegado de Polícia local, do Juiz e do Promotor” e denuncia que “em agosto de 1973, Aigo, perante professores e alunos do Colégio de CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA, espancou uma criança que havia entrado em luta corporal com seu filho, criança essa que veio a falecer no hospital local. Tendo sido, sob pressão, decretada sua prisão preventiva, foi acobertado pela polícia e fugiu para Goiânia, onde veio a ser preso em outubro de 1973”.
Figueiredo revela o clima de conluio entre o Delegado de Polícia local, o coronel da PM paraense Jurandir Torres de Lima e o preposto do Bradesco revelando que “em sua residência, nesta cidade, foram encontradas numerosas cartas do Delegado de CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA, esclarecendo que estava envidando esforços para que o Juiz relaxasse o pedido de prisão preventiva”.
Informa ainda, que “o nominado já se encontra em liberdade, pois o Juiz desqualificou o crime cometido para o de ‘lesões corporais’. A Polícia Federal possui fotografias de menores submetidos a torturas, através de queimaduras”. Além destes fatos cita o recolhimento de taxa semanal em prostíbulos locais, tidas como “taxa de manutenção” e que os policiais agiam assim por determinação da Secretaria de Segurança do Pará.
O ápice da narrativa denuncia que “recentemente, em uma das fazendas do Grupo BRADESCO, teria sido desmatada uma grande área. Antes de ser iniciada a ‘queimada’, um dos capatazes determinou aos empregados para completarem o trabalho de desmatamento na parte central da área. Quando os mesmos lá se encontravam foi ateado fogo à mata e teriam morrido cerca de 60 trabalhadores dos 100 que realizavam a tarefa”. (grifo nosso)
Não foram estes os únicos trabalhadores atingidos pelo violento modelo de gestão do Grupo Bradesco no Pará, onde, ainda no ano de 1987 persistiam denúncias de trabalho escravo em fazendas do Grupo Bradesco, especificamente em Santana do Araguaia, sob o comando de Zezinho da Codespar.
Em 02/08/1973 o jornal O Estado de São Paulo publicou matéria sobre o assassinato do posseiro Francisco Moura Leite pelo gerente Aigo Hudson Pyles da Cia. Agropecuária Rio Araguaia, do grupo Bradesco e citado por Figueiredo.
Conforme o relato do Dr. Paulo Botelho, advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, publicado no relatório Assassinatos no Campo 1964-1985, “o gerente Hudson sempre perseguiu os posseiros da região, queimando casas, espancando-os e até ameaçando-os de morte, para que deixassem as terras situadas dentro dos limites das fazendas do grupo Bradesco”. O assassinato de Francisco se deu em frente a uma escola do município de Conceição do Araguaia, colidindo com o esforço que a partir do anos 70 o Bradesco realizou de ligar a preocupação social em educação da Fundação Bradesco à imagem do banco, sendo sua 1ª experiência justamente a criação e manutenção de uma escola no município onde ocorreu o assassinato.
Reportagens sobre as escolas da Fundação Bradesco entre 1970-1971.
Apesar das manifestações, à época, de pesar do presidente do banco Amador Aguiar, repudiando a conduta de seu gerente e promovendo seu afastamento do Bradesco, o advogado Paulo Botelho o aponta também como culpado pelo crime. Diz ele: “desde setembro de 1971, quando lhe enviei uma carta, o senhor Amador Aguiar está ciente e consciente de que suas fazendas estavam sob direção de um facínora, que usava e abusava de todas as crueldades, com a ajuda de pistoleiros armados”.
Com exceção do episódio do lavrador morto por Aigo Hudson Pyles, os crimes registrados pelo general João Batista Figueiredo seguem não só impunes, como nunca foram tornados públicos, nem pela grande imprensa e tampouco pelos jornais alternativos da época. O afastamento do gerente da fazendo do Grupo Bradesco em 1973, não impediu que morressem queimados 60 trabalhadores no ano seguinte e o trabalho escravo existisse ao menos até 1987.
A Comissão da Verdade do Pará, uma das últimas a desenvolver o tema da Justiça de Transição no país, têm o desafio de apontar casos como este ao Ministério Público Federal para elucidar tão hediondos acontecimentos na Amazônia paraense e proporcionar a justiça, reparação aos atingidos e a verdade aos brasileiros e brasileiras.
Muito bom esse resgate que faz o Instituto Paulo Fonteles. É importante lembrar ás novas gerações que vários bancos como o Bradesco, Bamerindus e empresas do porte de uma Volkswagem, entraram para a atividade agropecuária, incentivados pelos governos da ditadura de 1964 a fim de obter desconto no Imposto de Renda. E aos ditadores interessava desmatar ao máximo a floresta como estratégia para ocupar a região com empresas e pessoas da confiança do regime militar, sobretudo após a guerrilha do Araguaia.
Na época era INTEGRAR PARA NAO ENTREGAR. K governo legítimo que tirou os comunistas da época tipo os petistas como Dilma, Zé Dirceu…..e todos estes bandidos que estão aí de volta o governo militar não mandou matar ninguém estes casos aparte foram feitos por pessoas sem escrúpulos mas não a mando dos militares. OS MILITARES FIZERAM UMA LIMPA FOI NOS COMUNISTAS DA É POCA OENA QUE NÃO DEU FIM NESTA CORJA E ELES ESTÃO AI DE NOVO ROUBANDO NOSSO PAÍS.
MAIS UMA DENUNCIA!