O antigo Museu da Guerrilha do Araguaia em São Geraldo do Araguaia (PA) foi incendiado na noite de ontem, 14 de abril. O sinistro ocorreu depois que Eduardo Lemos Porto, ex-proprietário e ex-agente do Centro de Inteligência da Marinha (Cenimar) na ditadura militar ter sido preso por tráfico de drogas pela Polícia Militar do Pará.
O fato é que o abandonado Museu foi alvo de diligência da Comissão da Verdade do Pará – com o apoio da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – em fins de 2015. Tal ação recolheu um rico acervo documental e depois de detida análise revelou que o Museu da Guerrilha serviu, durante mais de vinte anos, de fachada para as ações de monitoramento, vigilância e informações, além de promover a “guarda” de objetos que poderiam ter pertencido aos guerrilheiros desaparecidos nas matas do Pará.
A infiltração do agente na região onde foi deflagrada a Guerrilha do Araguaia (1972/1975) correspondeu às preocupações com que a repressão teve com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a rearticulação do Partido Comunista da Brasil (PC do B) no curso nas crescentes lutas de resistência dos posseiros contra a grilagem e aos projetos de grandes empreendimentos capitalistas na Amazônia paraense.
A ação de Eduardo Lemos Porto, ligado à Marinha desde 1973, foi de assessoria as ações do Grupo Executivo Araguaia-Tocantis (GETAT), instrumento que militarizou a questão fundiária na região e ligado diretamente ao então Conselho de Segurança Nacional (CSN), da Presidência da República.
Os documentos recolhidos comprovam, ainda, que a estrutura de vigilância e de informações aos órgãos de segurança do Estado perdurou até a década de 2000 e que indígenas e o movimento dos camponeses que lutam para conquistar reconhecimento e reparação, ligados à Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia (ATGA), foram monitorados pela estrutura clandestina.
Acontece que Eduardo Lemos Porto parece ter sido abandonado pelo esquema clandestino e ao entrar em desgraça passou a achacar militares da ativa, que o levou a passar alguns anos dentro do Programa de Proteção à Testemunhas do Governo Federal. No período anterior vendeu farto material etnográfico e abandonou o Museu.
O incêndio criminoso ao prédio, construído pelo Batalhão de Engenharia do Exército e cedido em 1986 ao ex-agente para a criação do Museu de História Natural da Amazônia – o nome foi mudado na década de 1990 para Museu da Guerrilha do Araguaia – pode ter sido uma resposta ao tráfico de drogas, mas, também, uma tentativa de apagar os crimes cometidos pela repressão política na região do Araguaia, durante e depois da Guerrilha organizada pelo então clandestino Partido Comunista do Brasil.
Para entender o caso:
Museu da Guerrilha do Araguaia: Instrumento da Espionagem Militar (Por Evandro Medeiros)
Comissão da Verdade do Pará revela forte vigilância sobre indígenas: http://paulofontelesfilho.blogspot.com.br/2015/09/comissao-da-verdade-do-para-revela.html?q=museu
Comissão da Verdade do Pará recolhe arquivos de ex-agente da repressão: http://paulofontelesfilho.blogspot.com.br/2015/09/museu-do-araguaia-era-fachada-para-acao.html?q=museu
Comissão da Verdade do Pará localiza acervo e promove diligência para salvaguardar coleção:
http://paulofontelesfilho.blogspot.com.br/2015/06/comissao-da-verdade-do-para-localiza.html?q=museu
Comissão da Verdade do Pará recolhe documentos e propõe centro de memória da luta dos posseiros:
http://paulofontelesfilho.blogspot.com.br/2015/06/comissao-da-verdade-do-para-recolhe.html?q=museu
Localizado acervo do Museu da Guerrilha do Araguaia: http://www.vermelho.org.br/noticia/265969-11
Monique Malcher: Não se pode calar o passado.
2005 trabalhei como voluntário no Museu de São Geraldo ao lado de Eduardo conhecido por nos como dubuju. Eduardo passavam bastante necessidade nos voluntário ajudamos muitas vezes ele com cestas básica…