Por Jetro Fagundes
Do Livro Heróis do País da Cabanagem
Saudoso Deputado Paulo Fonteles,
Da Trinca de Advogados Gratuitos
Ao Vento que sopra do Marajó
Vento, camarada companheiro
Sopre com a tua alma cidadã
As lembranças dum guerrilheiro
Que foi um dia buscar o amanhã
Cante pro irmão do campesinato
Um dia o Sol da Justiça brotará
Tudo o que um advogado do mato
Plantou no solo do nosso Pará
Filho da guerreira heroína
Uma defensora da paz, do bem
Cordolina, legendária menina
A mãe coragem da bela Belém
Desde quando era estudante
Ele, no jeito de agir, sonhar
Já se revelava um militante
Na sua Católica Ação Popular
Quando os generais ditavam
À base de porretes, de fuzis
Jovens caminhavam, cantavam
Pelas ruas e praças do país
Tempos dos ditadores tiranos
Paulo Fonteles, por pertencer
A uma terra de legado cabano
Se posiciona contra o poder
Tempos do AI-5, a censura
Policiava a vida do povão
Paulo, um jovem de postura
Vai ficar do lado do cidadão
Um dia ele ruma para Brasília
Com proposta de radicalizar
Seguindo a libertária trilha
Dos que nasceram pra lutar
Homem de atuação notória
Se engaja mais na luta popular
Como estudante de História
E professor do pré- vestibular
Vento, sumano do Ver-o-Peso
Da Janela onde posso Ver-o-Rio
Um dia o teu irmão foi preso
Pela polícia do porão, do canil
Socialista, libertário militante
Por lutar pela redemocratização
Com sua esposa, então gestante
Vai ser torturado na prisão
Bárbaras sandices, covardias
Tortura, violência, tanto horror
Paulo documentou em poesias
Registrando momento de dor
Foi como encarcerado torturado
Verdadeira testemunha ocular
Das selvagerias de um Estado
Nos porões da ditadura militar
Os anos em que ficou encarcerado
Preso nos porões dos generais
O fizeram ficar mais engajado
Nas lutas por direitos sociais
No tempo em que ficou prisioneiro
Nos sinistros terríveis porões
Paulo conheceu companheiros
Pessoal de libertárias ações
Solto, o socialista militante
Vai apoiar movimento estudantil
União Nacional dos Estudantes
Importante na história do Brasil
Tempos depois, no nosso estado
Na Universidade Federal do Pará
Paulo, como sempre, esforçado
Em doutor advogado se formará
Antes mesmo de ser diplomado
Paulo Fonteles como sonhador
Já era um brilhante advogado
De estudante, de trabalhador
É assim logo que é diplomado
A convite de lendária pastoral
Vai defender os injustiçados
A gente trabalhadora rural
Fonteles, Vento, meu sumano
Após fundar Sociedade no Pará
Em defesa dos Direitos Humanos
O seu primeiro presidente será
O amigo do Poeta Rui Barata
Foi uma voz resistente, ideal
Junto a um grupo democrata
Num certo ALTERNATIVO jornal
Vento, tu que sempre estás do lado
De quem luta contra os maiorais,
Paulo Fonteles foi o advogado
Justo dos Movimentos Sociais
Defensor de questões fundiárias
Sabia fazer a hora acontecer
Peitando barreiras judiciárias
Que sempre estão do lado do poder
Companheiro de lavrador, roceiro
Posseiro, sindicalista, camponês
Embora ameaçado por pistoleiros
Resistia com intrepidez, honradez
Ele, conhecido advogado do Mato
Por defender a terra e a pastoral
Em oitenta e dois saiu candidato
E foi eleito deputado estadual
Vento da coragem guerrilheira
Tu sabes, nem preciso te jurar
Num dos barracões da Pedreira
Eu também fui lá comemorar
Deputado pra lá de libertário
Sempre se colocou à disposição
Com um dos seus pés no plenário
E outro nas ruas com a multidão
Dizem que Palácio da Cabanagem
Pela primeira vez pode contemplar
Um verdadeiro deputado coragem
E ligado ao movimento popular
Honrando aquele sangue cabano
De quem nunca temeu bala, fuzil
Apoiou trabalhador rural e urbano
E abraçou a causa estudantil
Vento, o teu deputado socialista
Por desafiar os donos do poder
Fazia parte de macabras listas
Dos já marcados para morrer
Embora parte da macabra lista
Denunciava, como parlamentar
A corrupta política entreguista
Da criminosa ditadura militar
E sempre direcionava seu grito
De revolta, pura indignação
Pros rumos das áreas de conflito
Em defesa de lavrador, sem chão
Mesmo sofrendo muitas ameaças
De coronéis, fazendeiro, capataz
O deputado nas ruas e praças
Sem se acovardar ousava mais
Em oitenta e sete, ex-deputado
Sempre defensor de camponês
Paulo Fonteles foi atocaiado
Na BR trezentos e dezesseis
Vítima da covardia assassina
O socialista, poeta, menestrel
É baleado num posto de gasolina
Por uns pistoleiros de aluguel
Perto do começo da Alça Viária
O deputado heroicamente tombou
Vítima da insanidade agrária
Na terra que ele tanto amou
Terra onde o poder judiciário
Nos afronta com tanta omissão
Prato cheio pra que reacionários
Assassinem defensor de cidadão
Vento companheiro da História
Tu que tens um ar de cantador
Cante o que diz a Santa Memória
Que terra é dom do Deus Criador
Ilustre paro o infinito, aquarele
A terra, um dom supremo divinal
E cante pro irmão Paulo Fonteles
Amigo de uma lendária Pastoral
Cantoreie pro Araguaia, Xinguara
O que Ademar Bogo diz em poesia
Que os companheiros de Guevara
Trilham a estrada por um novo dia
Cante sempre para Paulo Fonteles
Guerrilheiro e poeta intelectual
Que sentiu na sua própria pele
Mil dores por defender seu ideal
Paulo Fonteles dedicou a vida
Pela Reforma Agrária nacional
Pela terra que quis ver dividida
Em benefício do trabalhador rural
Escolas, ruas e praças parauaras
Sabem bem que a belíssima voz
Do bravo companheiro de Guevara
Ainda ecoa firme no meio de nós
Ecoa lá na memória do infinito
Pros rumos donde também estão
Padre Josimo, Canuto, Expedito
Todos gente de fé e muita ação
Ecoa lá pros rumos de Eldorado
Pro mato onde se tem recordação
De João Batista, outro deputado
Que rega com sangue nosso chão
Defensor dos Sociais Movimentos
Como autêntico cabano imortal
Dizia: Nem a tua força, Vento
Pode derrubar um I d e a l
Herói cabano dos mais queridos
Belíssimo, valente , batalhador
Foi comoventemente despedido
Ao som do Funeral de um Lavrador
Seu cortejo pelas ruas belenenses
Acompanhado de imensa multidão
Revelava o quanto os paraenses
O amavam de paixão, coração
Das sacadas dos apartamentos
O verde louro ao vermelho se uniu
Como cantarolados de lamentos
Por quem da luta jamais fugiu
Viva Paulo Fonteles, camarada
Presente nos sonhos, nos ideais
Nos passos de cada caminhada
Nos embates contra os maiorais
Jetro Fagundes é farinheiro do Marajó e de Ananin
FONTE: http://www.vermelho.org.br/noticia/298056-1