Testemunhas afirmam que seguranças de uma empresa privada participaram da operação policial que resultou na morte de dez trabalhadores rurais na Fazenda Santa Lúcia em Pau D’Arco, no sudeste do Pará. A afirmação foi feita em depoimentos prestados ao Ministério Público do Pará (MPPA) e divulgada pelo promotor Alfredo Amorim, em entrevista à TV Liberal.
Dez pessoas morreram durante a ação policial que tinha como objetivo o cumprimento de mandados de prisão de pessoas suspeitas de envolvimento na morte de um segurança. Segundo as famílias, eles foram executados. A Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) disse que as mortes ocorreram em um confronto com a polícia, mas voltou atrás e vai aguardar a conclusão do inquérito.
Alfredo Amorim é um dos quatro promotores que acompanham o caso da chacina em Pau D’Arco. “Em 23 dias de exaustiva investigaçãao nós ouvimos os policiais, testemunhas, vítimas, sobreviventes, então a gente já pode abandonar o eufemismo do ‘se houve excesso’. A promotoria já trabalha (com a versão) que houve execução”, diz Amorim.
O promotor ressaltou ainda as irregularidades da operação. “É totalmente irregular a participação dos seguranças e pelo menos um deles estava armado com um (revólver) 38. Eu sei que estavam de serviço para a fazenda e, por sinal, evaporaram do local”, relata o promotor. A empresa E1 Segurança, que atua na fazenda Santa Lúcia, informou à TV Liberal que só vai se manifestar posteriormente, por meio de seus advogados.
O trabalho do MPPA deve ser concluído em cerca de 40 dias. Depois de colher depoimentos de sobreviventes, testemunhas e policiais que participaram da ação, os promotores descartam a hipótese de um confronto na fazenda, apesar de ainda não ter tido acesso aos laudos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPC).
Mais de 50 armas recolhidas no local do crime, incluindo armas de policiais e posseiros, estão sendo periciadas pelo CPC e o laudo só será emitido no mês de julho. Na quarta-feira (14), o CPC informou que não foram constatados impactos de projétil de armas de fogo durante a perícia nos coletes à prova de balas usados pelos policiais durante a ação na Fazenda Santa Lúcia.
CPT fala em massacre
Para a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o resultado dos laudos confirma a versão da entidade sobre o caso. “Nós estávamos certos, o povo estava certo, as vítimas estavam certas. As polícias militar e civil entraram (na fazenda) para massacrar os trabalhadores rurais”, diz o Padre Paulino Juanil, da CPT.
De acordo com o laudo necroscópico realizado pelo CPC, 9 trabalhadores rurais morreram com dois ou mais tiros frontas. Apenas Jane Jane Julia de Oliveira, uma das líderes do assentamento, foi morta com um tiro lateral.