Dirigentes políticos falam sobre o julgamento que poderia impedir a candidatura à Presidência do líder de esquerda
Camponeses que conquistaram terras para plantar, trabalhadores sem teto que hoje têm sua casa própria, jovens de escolas públicas que entraram nas disputadas universidades federais, todos eles integrantes de movimentos populares que estão manifestando o seu apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em mais uma etapa de julgamento no interior da operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção.
Unidos, os movimentos populares prometem sair às ruas na semana do dia 24 de janeiro, data em que será o julgamento em segunda instância do ex-presidente do em Porto Alegre (RS), na sede do Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF4), no caso envolvendo o apartamento triplex no Guarujá. Atos públicos estão marcados para ocorrer em diversas cidades do país, inclusive na capital gaúcha.
“O julgamento do ex-presidente Lula, no dia 24 de janeiro, representa a máxima expressão da luta de classes no Brasil”, de acordo com João Pedro Stedile, membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “A presença de milhares de trabalhadores em Porto Alegre coloca a luta de classes no seu devido patamar. De um lado os três poderes: Judiciário, Legislativo e midiático – que representam 1% da população. E, do outro, os trabalhadores, com o Lula e os movimentos populares”, afirma.
O dirigente ainda analisa que a possível condenação de Lula pelo TRF4 representa um “desdobramento do plano golpista da burguesia”, que começou com o impeachment, em 2016. “A burguesia deu um golpe na presidenta Dilma [Rousseff] e implementou políticas econômicas que jogam nas costas da classe trabalhadora todo o peso da crise. Porém, esse plano golpista só se completa a longo prazo. Por isso querem inviabilizar a candidatura do Lula. Por sua trajetória, porque ele representa a síntese da classe trabalhadora, essa é razão pela qual a disputa se concentra no Lula”, explica Stedile.
Marcelo Edmundo, dirigente nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), concorda com a análise do MST e aponta que o entendimento dos movimentos, tanto do campo quanto da cidade, é que o caso de Lula revela uma “perseguição ardilosa”. Ele acredita que isso só está acontecendo em função do que o ex-presidente representa para as classes populares. “Lula é a maior liderança popular do Brasil e uma das maiores do mundo. Lula é, sobretudo, o símbolo da acensão social do povo. Isso incomoda profundamente nossas elites canalhas”, ressaltou.
Perseguição
Os movimentos afirmam que o julgamento de Lula é político, pois não se baseia na concretude de provas dos atos pelos quais ele é acusado – corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ou seja, na condenação em primeira instância, feita pelo juiz Sérgio Moro, em Curitiba (PR), não foram apresentadas evidências do crime, o que se mantém no julgamento de agora. E essa motivação política, para as organizações populares, tem um objetivo: impedir que Lula se candidate à Presidência neste ano.
Segundo o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, o ex-presidente está sofrendo uma perseguição política, por meio do Judiciário, por isso os movimentos estão mobilizados em sua defesa. “Visivelmente existe uma perseguição ao ex-presidente Lula. Não houve um julgamento justo na primeira instancia da Justiça. E, agora, existe uma atuação do Judiciário no sentido de impedir a participação de Lula nas eleições de 2018. O país todo está vendo. Inclusive, ajustaram os prazos do julgamento para impedir sua candidatura. Isso é um ataque brutal à democracia”, aponta.
Como exemplo do que afirma Boulos está no fato de que o TRF4 passou o julgamento em segunda instância de Lula à frente de sete outras ações da operação Lava Jato, cujos recursos haviam chegado antes ao tribunal.
O apoio ao ex-presidente Lula não é diferente entre os integrantes do Levante Popular da Juventude, um dos maiores movimentos populares juvenis do Brasil. A dirigente nacional da organização Jessy Dayane Silva Santos destaca a falta de provas contra Lula e a manipulação midiática em torno do processo. “Até hoje não foi apresentada uma única prova contra o ex-presidente. Mesmo assim os grandes meios de comunicação produzem uma espetacularização do caso e já o condenaram há muito tempo. O processo tem avançado em tempo recorde, com claro objetivo de inviabilizar a candidatura de Lula. Eles sabem que Lula é o candidato que tem maior chance de vitória”, afirmou a jovem dirigente.
Protestos
Diversos movimentos populares e sindicais, além da participação espontânea de diversas pessoas, irão promover manifestações pelo país na semana do julgamento. Além da defesa da democracia brasileira, os protestos têm como foco defender o direito de Lula ser candidato e da participação soberana da população nas eleições.
Na opinião do camponês Ildo Lemes da Silva, do Rio Grande do Sul, “defender Lula é defender o povo brasileiro”. Ildo é da base social do MST e um dos milhares de trabalhadores que foi beneficiado com políticas públicas que melhoraram a qualidade de vida da população do campo nos anos de governo Lula. “Quando meu pai foi assentado pela reforma agrária, nos anos de 1980, ele tinha que caminhar 27 quilômetros para comprar um quilo de farinha e um quilo de arroz para nos alimentar. Não tinha nem estrada”, relata.
O camponês garante que hoje a situação é bem diferente. “Nossos assentamentos são os maiores produtores de arroz agroecológico da América Latina. Graças às políticas dos governos Lula e Dilma conseguimos desenvolver a agroindústria para processar toda a cadeia de produção do arroz, desde o plantio até a embalagem final. Produzimos mais de 5 milhões de litros de leite só nas cooperativas dos assentamentos da reforma agrária”, disse Silva, que é um dos milhares que estará em Porto Alegre no dia 24 de janeiro na mobilização em apoio ao ex-presidente Lula.
Edição: Vivian Fernandes