É lugar comum listar as importantes conquistas que as mulheres alcançaram nos últimos anos. Ninguém nega que a luta feminista nos garantiu direitos por muito tempo negados. Coisas que hoje parecem resolvidas, questões ultrapassadas. Cito o direito a estudar, a ter uma profissão e poder exercê-la, votar e ser candidata a cargo eletivo, o direito ao divórcio e às decisões referentes ao nosso corpo. Enfim, uma voz.
Por Jandira Feghali*
Volto a este tema na semana do Dia Internacional da Mulher, inspirada pelos questionamentos de Nancy Fraser ao descrever o “feminismo de segunda geração”. Pelo que lutamos hoje? É certo que abandonamos a crítica à opressão imposta pelo capitalismo e nos tornamos criadas de um capitalismo travestido em nova roupagem?
Falo diante de uma realidade que experimento todos os dias, a realidade das mulheres brasileiras. E parto de uma premissa básica. Vejam como todas essas conquistas, ainda hoje, estão longe de completas.
Podemos estudar e almejar uma profissão. Mas como se dá o acesso ao mercado de trabalho para as mulheres? Como as mulheres são recepcionadas em cursos ocupados predominantemente por homens? Como é a realidade salarial das mulheres que ocupam a mesma função dos homens?
Podemos votar e nos candidatar a cargos eletivos. Mas qual a prioridade que a maioria dos partidos dá às candidaturas das mulheres? Qual o incentivo para a formação de lideranças femininas? As mulheres negras enfrentam as mesmas dificuldades que as brancas ou a elas são impostas mais barreiras?
O direito a dar fim a uma relação infeliz ou abusiva está na lei, mas quantas pagam com a própria vida ao exercer essa opção? Podemos dizer que todos esses direitos vieram acompanhados de estruturas que nos permitam uma vida sem violência e em igualdade de condições? Infelizmente não.
Longe do que parece, este é um texto de esperança. Esperança neste feminismo de segunda geração. O neoliberalismo é a fase contemporânea de um capitalismo que não será superado fora da luta de classes.
A opressão de gênero se alimenta das vicissitudes deste sistema e nossa luta não pode desconhecer isso. E por isso o feminismo deve ser sinônimo de coletivo. Sinônimo de uma luta coletiva contra a opressão.
Neste sentido, a luta pelo empoderamento das mulheres deve ser solidária e andar de mãos dadas com a democracia. Fora disso, está certa Nancy Fraser, prevalece o individualismo e, em prevalecendo, jogamos o jogo para perder. E essa derrota é de todos.
As lutas revolucionárias não se constroem sem correlação de forças. A união é imprescindível. As feministas devem estar na vanguarda da revolução que se faz, mais do que nunca, necessária.
Nossa bandeira é a emancipação. Nossa voz deve se erguer, com liberdade e generosidade, para que todos se envolvam nesta bandeira. Fora dela teremos uma sociedade injusta e indigna para seus homens e mulheres. Fora dela está a opressão e enquanto ela perdurar não deixaremos de lutar.
*Médica, deputada federal (PCdoB/RJ) e vice-líder da oposição