Os diretores confessaram que usaram canal desativado e sem autorização, mas negaram a contaminação. Depoimentos contrariam pesquisas realizadas na região, apontam parlamentares.
Diretores nacionais da refinaria Hydro Alunorte, instalada em Barcarena, no nordeste do Pará, foram ouvidos em Belém pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga danos ambientais na bacia hidrográfica do rio Pará. Relator da CPI, deputado Celso Sabino disse que a empresa acabou confessando que fez uso de canal que já estaria desativado e sem a devida autorização. O diretor presidente Carlos Neves e o vice-presidente de Relações Internacionais Anderson Baranov negaram qualquer contaminação de rios, igarapés e poços artesanais na região, contrariando laudos e análises de instituições científicas.
O relator da CPI, deputado Celso Sabino, disse que observou contradições entre depoimento dos analisados.
“A Hydro nega que houve o transbordo. Já os técnicos e cientistas apontam para uma assinatura química que demonstra que houve , disse o deputado.
A Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) informou nesta quinta-feira (17) que os depoimentos duraram mais de 3 horas.
Os representantes disseram que não houve transbordamento nas bacias DSR1 e DSR2 e que não houve vazamentos de rejeitos entre os dias 16 e 17 de fevereiro, quando fortes chuvas atingiram Barcarena. Na plateia, houve manifestações contrárias.
Os diretores disseram ainda que nos resíduos liberados com produção da alumina há somente traços de elementos como alumínio e chumbo. No entanto, a contaminação já foi comprovada por laudos e pesquisas de instituições de ensino e pesquisa.
“A contaminação não tem relação com as atividades da empresa Alunorte, existem várias contribuições que nós não descartamos. Nada do rio vem da empresa. Ao longo do rio, tem lixão e várias residências e não tem saneamento básico. Não sai nada da Hydro naquela região”, afirmou Carlos Neves.
Já Baranov afirmou que não houve transbordamento comprovado por instituições como Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
De acordo com a Alepa, a empresa apontou fatores que poderiam ocasionar a presença de materiais pesados em grande quantidade no leito dos rios sem a sua responsabilidade.
Porém o deputado Sabino explicou que as análises da Universidade Federal do Pará (UFPA), Instituto Evandro Chagas (IEC) e Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves apontam para coletas feitas em locais que não há participação de esgotos de famílias ou de afluentes de lixões.
A CPI deve emitir relatório identificando a existência ou não do dano ambiental, da ocorrência de crime ambiental, com os possíveis autores, os que agiram com omissão ou com ação pra que isso ocorresse.
Os parlamentares também pediram da empresa um posicionamento sobre os projetos sociais nas comunidades atingidas. “Queremos saber de todas as empresas instaladas em Barcarena, que projetos sociais estão em andamento, pesquisas sobre os impactos e os atendimentos que estão sendo realizados a população afetada”, disse presidente da CPI, deputado Coronel Neil.
Já o parlamentar Carlos Bordalo indagou os diretores sobre estudo por pesquisadores da UFPA, que indica que bauxita processada produzida em mina localizada em Paragominas, que “já chegaria em Barcarena por dutos, carregada de minerais extremamente agressivos ao meio ambiente”. Os diretores negaram.
O deputado ainda disse que recebeu um documento pedindo que a consultoria de São Paulo contratada pela multinacional Hydro não analise a toxidade da água. “Quando você não analisa a toxidade da água você não pode medir o grau de contaminação dela”, disse Bordalo.
A Alepa informou que já foi remarcada a acareação – quando se comparam os laudos até então divulgados. O processo havia sido cancelado após a empresa de consultoria ser dispensada pela Hydro e não comparecer para prestar depoimentos.
A acareação deve ser realizada com técnicos da SGW Service, do IEC, da UFPA, com a presença de técnicos da Hydro Alunorte.