CADA VEZ QUE ALGUÉM CRIMINALIZA OS DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS COLOCA UMA ARMA APONTADA PARA A CABEÇA DAQUELES QUE LUTAM.

Por *Juliana Fonteles

A imagem de uma brutalidade desmedida é de um dos melhores homens de sua geração, o mais lúcido e destemido, advogado do mato, meu pai, heroi da luta pela terra, militante de direitos humanos que teve a vida ceifada por defender o justo, as necessidades humanas, a coragem, o amor pelo povo, a liberdade, a paz entre homens e mulheres e a justiça.

O seu legado de honra nos apontou as estratégias para sobreviver diante de uma tragédia impune.
Após 31 anos, a violência no campo e na cidade continua a fazer suas vítimas, viúvas, órfãos, pais e mães se abatem sob a crueldade dos latifundiários e donos do poder que apodreceu e esqueceu de ser enterrado.
À nós coube a tarefa de nunca deixar que ninguém esqueça, sobretudo, quem foi Paulo Fonteles.

Trinta e um anos após a brutalidade que sofremos e que impôs às nossas mães a tarefa de ser pai e mãe, pois, a violência que somos vítimas não foi escolhida por nós, e, é contra essa violência que nos levantamos e seguimos o legado de honra, coragem e amor pelo povo que deixou nosso pai.
A luta segue e não é tempo de calar.

É chocante, devo admitir, mas 31 anos é um tempo longo, e diante de todos os ataques que defensores de direitos humanos passam, penso que seja necessário lembrar.
CADA VEZ QUE ALGUÉM CRIMINALIZA OS DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS coloca uma arma apontada para a cabeça daqueles que lutam.

31 anos após o assassinato de nosso pai os movimentos sociais e as entidades de Direitos Humanos ainda são criminalizados. Ainda existe quem defenda o indefensável, que tenta desqualificar os direitos humanos com a pecha de que defendemos bandidos. Como alguém pode repetir tamanha inverdade?

31 anos acordamos com uma espinha atravessada na garganta. A violência, os direitos violados, a falta de direitos, a negociação dos direitos sociais, absolutamente tudo que aprendemos denunciar para que mantivessemos viva as ideias de nosso pai, sob ataque fascista e desenfreado.

Nós daríamos um braço, uma perna, daríamos a própria vida para que pudéssemos tê-lo aqui conosco.
O latifúndio não nos deu escolha, senão, a luta por direitos, e assim honrar todo o sangue derramado, todo o amor que nos foi roubado.

Foi assim e é assim que transformamos dor em luta, para que também pudéssemos continuar nossas vidas sem perder a certeza que tiraram a sua vida mas as ideias continuam vivas em cada exigência por justiça.

Sim, é para que ninguém esqueça que há 31 anos o latifúndio tirou a vida de Paulo Fonteles e enquanto existirmos a bandeira da memória, dos direitos humanos, da verdade e da justiça serão parte dos nossos caminhos, para que nosso pai esteja vivo no meio do povo, lugar que nunca poderia ter sido arrancado da maneira que foi.

Ao nosso camarada papai, nosso sol, nossas lágrimas e o eterno sentimento de coragem e amor. É para te honrar que existimos. Receba minha carta de saudades no céu e o nosso amor por toda eternidade.
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