Para economista, desafio continua sendo encontrar o caminho do crescimento com distribuição de renda. Além da garantia do “livre pensar”
por Vitor Nuzzi, da RBA
Um emocionado Eduardo Suplicy saiu antes do final do filme, exibido na tarde desta terça-feira (25) na Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde lecionou, cumprimentando o diretor, José Mariani, autor de Livre Pensar, documentário recém concluído sobre a economista Maria da Conceição Tavares, que agora passa por um circuito basicamente universitário. Para a também economista Laura Carvalho, a obra mostra que o crescimento com distribuição de renda “constitui o principal desafio de qualquer projeto de país”.
“Esse é o grande desafio, continua sendo”, disse Laura, convidada para a sessão pelo professor e historiador Luiz Felipe de Alencastro, coordenador do Centro de Estudos do Atlântico Sul da instituição. Aluna de Conceição Tavares, “talvez uma das últimas turmas”, Laura demarca o contraponto entre o crescimento em meio a um processo de industrialização no período da ditadura, só que com maior desigualdade social, e um crescimento com distribuição de renda no período recente, mas com desindustrialização.
Para ela, que acaba de lançar o livro Valsa Brasileira: do boom ao caos econômico, Conceição Tavares foi precisa ao falar em três eixos, que precisam sempre ser considerados, para uma análise abrangente da economia: o plano internacional, o desenvolvimentista e o social. Este último, segundo Conceição afirma no documentário, às vezes acaba com golpes, “pau no lombo” e lideranças presas.
Uma plateia predominantemente jovem no auditório da Escola de Economia de São Paulo (Eesp) da FGV riu em algumas passagens do filme, que mostra o temperamento explosivo de Conceição Tavares, 88 anos completados em abril. E também sua independência de pensamento, como o título do documentário sugere. “Ela é fora da caixinha”, diz o economista, ex-senador e ex-ministro Aloizio Mercadante, um dos entrevistados. Laura Carvalho acredita que o atual momento brasileiro reserva riscos ao livre pensar, “o que não é tão absurdo diante do que estamos vivendo”.
Mariani observa que o documentário começa e termina com imagens de festa, mostrando aspectos mais pessoais de sua biografada. E destaca uma fala “com a faca nos dentes” de Conceição Tavares no Fórum Social Mundial, em 2002, em Porto Alegre, em defesa da aceitação da discrepância, da tolerância entre os divergentes, algo impraticável nos dias de hoje. Sintomaticamente, logo no início uma alegre Conceição, no dia de seus 80 anos, em 2010, aparece sorridente entre Dilma Rousseff e José Serra – ex-alunos e adversários na campanha presidencial daquele ano, vencida pela petista.
Livre Pensar será exibido ainda hoje, às 19h, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e amanhã (26), às 20h, na Casa do Saber. O calendário inclui a Universidade Federal do Rio de Janeiro (1º de outubro), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (dia 2), a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo (dia 5), durante a Semana de Economia, e a Universidade Federal Fluminense (10).