Racismo, feminismo e a história da ditadura militar são alguns dos temas tratados nos livros escolhidos por eleitores
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. O trecho, inspirador, é parte de uma das maiores obras da literatura brasileira, Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, lançada em 1956.
No domingo (28), a atriz Cissa Guimarães levou o livro nas mãos para votar. A ação foi parte de uma campanha orgânica nas redes sociais, a #MaisLivrosMenosArmas, organizada em repúdio às políticas armamentistas levantadas por Jair Bolsonaro (PSL), eleito presidente do Brasil.
Diversos artistas postaram em suas redes sociais seus livros favoritos, ou aqueles que consideram mais pertinentes para o momento. Nem todos foram escritos com a pretensão de se enfrentar uma onda fascista, mas todos trazem elementos para uma compreensão histórica e social do país e estimulam debates para a superação de suas mazelas pela via democrática.
Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), votou acompanhado do livro “Batismo de Sangue”, de Frei Betto, que relembra os anos da ditadura militar no Brasil.
Confira outras obras escolhidas pelos eleitores que se manifestaram contra a violência e a favor da democracia:
Chimamanda – Para criar crianças feministas
Este livro, escolhido pela atriz Drica Moraes, é escrito em forma de carta para uma amiga. Nele, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie traz reflexões sobre a importância de educar crianças pensando na igualdade de gênero. Sem tom impositivo, Chimamanda dá dicas e aponta caminhos de como aliar educação e feminismo nos tempos atuais.
Os sentidos do Lulismo – André Singer
A obra, escrita pelo cientista político e ex-porta-voz do governo Lula, André Singer, reflete sobre o fenômeno eleitoral mais importante das últimas décadas, as eleições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e suas consequências na política brasileira. Foi a escolha da atriz e diretora Guta Stresser.
Grande Sertão Veredas – Guimarães Rosa
Cissa Guimarães foi votar com Grande Sertão Veredas, uma das mais importantes da literatura brasileira, foi publicada em 1956 e conta a história de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor reprimido por Diadorim.
Pedagogia do Oprimido – Paulo Freire
A deputada estadual eleita por Minas Gerais, Beatriz Cerqueira escolheu um dos livros mais lidos por educadores em todo o mundo. Pedagogia do Oprimido foi escrito pelo educador e filósofo Paulo Freire a partir de sua vivência no Chile. Freire propõe nesse escrito uma nova forma de educar, que leve em consideração o relacionamento entre aqueles que ensinam e os seus educandos.
Batismo de Sangue – Frei Beto
Neste livro, de Frei Beto, é contada a hsitória de religiosos ligados à Teologia da Libertação que também combatiam os anos ditatoriais no Brasil. Mais tarde, em 2007, o livro se tornou também um filme de mesmo nome, dirigido por Helvécio Ratton. É um retrato dos anos de chumbo da ditadura militar e foi a obra escolhida por Guilherme Boulos para votar.
O Movimento Negro Educador – Nilma Lino Gomes
Neste livro, escolhido pela youtuber Nátaly Neri, Nilma Lino Gomes se desdobra sobre a elucidação dos saberes produzidos, articulados e sistematizados pelo Movimento Negro e de Mulheres Negras e como subvertem a teoria educacional e repensam a pedagogia, escola e os currículos.
Quem tem medo do feminismo negro? – Djamila Ribeiro
Neste livro, Djamila Ribeiro reúne diversos textos que escreveu enquanto colunista da CartaCapital, refletindo sobre os desafios da mulher negra na sociedade brasileira. Mestre em Filosofia pela Unifesp, Djamila também traz reflexões sobre as teorias ligadas ao Feminismo Negro e como o debate teórico deve romper as bolhas e chegar a todas as mulheres. Foi a obra escolhida pela atriz Sophie Charlotte.
Persépolis – Marjane Setrapi
Fernanda Paes Leme levou a História em Quadrinhos (HQ), na qual Marjane Setrapi, autora franco-iraniana, conta a própria história passando por momentos decisivos da história de seu país, Irã, passando pela infância, adolescência e fase adulta. Além de comovente, a história de Marjane abre espaço para reflexão da importância da memória e história de um povo em tempos de guerra.
O Livro dos Abraços – Eduardo Galeano
Em pequenas crônicas que olham para a história de países latino-americanos, o escritor uruguaio Eduardo Galeano faz um retrato do continente latino-americano, mostrando desde a miséria de muitos povos aos seus costumes e cultura. Cuidadoso com as palavras e com seu minucioso olhar para a América Latina, Galeano convida o leitor a conhecer, nas pequenas histórias, a grandiosidade do continente. Foi a escolha desta eleitora, que preferiu se manter anônima.
Edição: Diego Sartorato