Organização denuncia a falta de respostas razoáveis por parte das autoridades públicas frente à gravidade do caso e das informações já divulgadas relacionadas ao assassinato.
Por G1 Rio
Oito meses depois do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, a Anistia Internacional vai divulgar, na manhã desta quarta-feira (14), um levantamento reunindo informações veiculadas publicamente sobre o caso.
A divulgação do documento pretende apontar questões graves que não foram respondidas, possíveis incoerências e contradições no decorrer da investigação, além de questionar o posicionamento das autoridades competentes.
“É chocante olhar para tudo o que já foi divulgado sobre as investigações do assassinato de Marielle Franco ao longo de oito meses e ver que o padrão foi de inconsistências, incoerências e contradições. As autoridades não respondem às denúncias graves que vieram à tona e, quando se pronunciam, parecem não se responsabilizar pelo que dizem. Marielle era uma figura pública, uma vereadora eleita. Seu assassinato é um crime brutal e as autoridades não estão respondendo adequadamente” afirmou coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional no Brasil, Renata Neder.
O documento apresenta informações divididas em cinco categorias: disparos e munição, a arma do crime, os carros e aparelhos usados e as câmeras de segurança, procedimentos investigativos e o andamento das investigações.
Além disso, cada bloco traz perguntas que as autoridades precisam responder. Entre os pontos críticos destacados, estão a falta de respostas sobre o desligamento das câmeras de segurança do local do crime dias antes do assassinato, o desaparecimento de submetralhadoras do arsenal da Polícia Civil do Rio de Janeiro e o desvio de munição de lote pertencente à Polícia Federal.
“Desde a noite do assassinato, foram divulgadas informações muito graves. Não podemos olhar para todas elas isoladamente. O quadro geral aponta que as autoridades do sistema de justiça criminal parecem estar se esquivando de sua responsabilidade. O Estado não pode deixar sem explicação o sumiço de munição e submetralhadoras de sua propriedade” disse Neder.
Mesmo sem respostas definitivas ou adequadas, as informações divulgadas indicam que o assassinato de Marielle Franco foi cuidadosamente planejado e que pode ter contado com a participação de agentes do Estado e das forças de segurança.
“Esse cenário de informações contraditórias, perguntas sem respostas e a possibilidade de que agentes do Estado estejam envolvidos no crime reforçam a necessidade de que seja estabelecido com urgência um mecanismo externo e independente para monitorar as investigações do assassinato de Marielle e Anderson” analisou Neder.
Apesar da demora na conclusão das investigações, a família continua mobilizada na espera por uma resposta.
“Temos recebido muito acolhimento e solidariedade das pessoas, tanto no Brasil como no exterior, e nossa família está cada vez mais unida. Oito meses se passaram e tudo o que a gente quer hoje é que se descubra quem matou e quem mandou matar a minha filha”, disse a mãe de Marielle, Marinete da Silva.