Depoimentos emocionantes marcaram o ato que homenageou o ex-deputado João Batista, assassinado há 30 anos no Pará, a mando da União Democrática Ruralista (UDR. O ato político, realizado nesta quinta-feira (6), foi uma iniciativa da ex-deputada Sandra Batista, viúva de Batista, e realizado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará em conjunto com a Fundação Mauricio Grabois (FMG).

Dezenas de lideranças políticas e sociais, entidades, movimentos, partidos políticos e defensores dos direitos humanos compareceram à Assembleia Legislativa para participar da homenagem realizada no auditório que leva o nome do deputado. O presidente estadual do PT, João Batista, destacou a importância da homenagem neste momento em que se tenta criminalizar os movimentos sociais. O deputado estadual Lélio Costa (PCdoB) ressaltou a necessidade da formação de uma ampla frente de resistência democrática e de defesa da soberania do Brasil e dos direitos do povo, valores que Batista defendeu como advogado de trabalhadores e como deputado estadual. O professor Edval Bernardino, da FMG afirmou que “não se mata uma liderança como Batista já que suas ideias e o legado atravessam gerações”.

O Padre Paulino Juanil, falou em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e relatou a convivência com Batista. Ele destacou a coragem do homenageado nas lutas em defesa dos trabalhadores no interior do Pará. Segundo Ayla Dias Ferreira, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a luta dos trabalhadores rurais se inspira em exemplos como o de João Batista. Ayla reafirmou a palavra de ordem “Nossa luta é Resistência”. A representante da CUT, Euci Ana, também citou a importância de Batista para a luta dos trabalhadores rurais e urbanos. Cleber Rezende, da CTB, disse que é preciso manter o compromisso de dar continuidade a luta das lideranças que perderam a vida na luta por justiça.
O ato contou também com a presença de representantes da Associação dos Magistrados do Trabalho do Pará (AMATRA-PA), da Ouvidoria do Ministério Público e da Associação dos Defensores Públicos do Estado. Todos ressaltaram a atualidade da luta pela democracia, contra o autoritarismo e a defesa do estado democrático de direito e da Constituição como fator fundamental para assegurar o desenvolvimento social.

Jáder Khawage falou em nome da Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB-PA) e afirmou que João Batista, junto com Gabriel Pimenta e Paulo Fonteles são exemplos de defensores dos trabalhadores que perderam a vida lutando por justiça. Khawage reafirmou o papel da OAB na na defesa dos direitos humanos.



Herói do povo brasileiro

A ex-governadora do Pará, Ana Júlia Carepa relembrou o início de sua militância na luta popular e da referência que foi João Batista para uma geração de militantes nas décadas de 1980 e 1990. Ana Júlia falou sobre a resistência necessária para enfrentar as ameaças à democracia e aos direitos e destacou a união do PCdoB com o PPL como uma ação de enfrentamento aqueles que querem acabar com a presença popular na política.

O deputado federal Edmilson Rodrigues (Psol) falou da sensibilidade e da coragem de Batista e citou momentos de defesa das ocupações urbanas em Belém. Falou do enfrentamento que é feito hoje em defesa da democracia no parlamento e num cenário de um governo federal de ultradireita, ressaltando a atualidade da luta pela democracia.

Para Jorge Panzera, presidente estadual do PCdoB, é de grande importância a homenagem a um herói do povo brasileiros num dos momentos mais duros da história do país. Panzera afirmou também que resistência que se inicia contra o futuro governo de Bolsonaro “vai parir mais heróis, já que a luta pela igualdade, pela democracia e pelos direitos do povo não vai parar jamais”.
Seguindo o exemplo do pai na luta por justiça

O ex-deputado João Batista foi pai de cinco filhos: Márcia, João Leonardo, Renata, Dina e João Carlos. Representando os familiares Márcia Batista, bastante emocionada, disse que mesmo não tendo convivido muito com o pai, por conta das atividades dele, tem orgulho de ser “filha de um mártir que lutou pela liberdade de um povo”. O filho mais novo e também advogado, João Carlos, fez um emocionante relato da sua relação com a figura do pai. João Carlos afirmou que tinha apenas um ano de idade quando o pai foi assassinado, mas o conheceu e aprendeu a amá-lo através de seu deixou. Ele falou ainda sobre gravidade do momento que o país vive, de ameaças aos lutadores e os mesmos argumentos e acusações que eram usados contra o pai, chamado de arruaceiro, comunista, subversivo, também são usados contra aqueles que ousam questionar os que estão no poder. Ao final, conclamou todos à luta e à união.

Amigos e antigos companheiros de João Batista, como o ex-deputado João de Deus, atual dirigente da CONAM e deputado ao lado de Batista e o Professor João Carmelino de Soure, também se pronunciaram e falaram sobre o convívio ao longo de muitos anos. Estiveram presentes ao evento, o deputado Carlos Bordalo (PT), representantes de Ipixuna, região de atuação de Batista, os filhos de Paulo Fonteles – advogado e deputado estadual também assassinado pelo latifúndio em 1987 – Juliana Fonteles, presidenta da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PA, e Pedro Fonteles, além do presidente da UJS, Jorge Lucas.

Não temos o direito de desanimar

Encerrando o ato, Sandra Batista agradeceu a presença e o empenho de todos para a realização da homenagem e conclamou todos, democratas, socialistas, comunistas, a formarem uma grande frente democrática e popular em defesa da democracia e dos direitos do povo. Sandra falou sobre a coragem de seu companheiro de vida e da luta. Afirmou que a morte de Batista foi a mais profunda demonstração de amor ao povo. Para ela “neste momento de ataque aos trabalhadores e suas conquistas, não temos o direito de desanimar. Temos que dar continuidade à luta dos nossos companheiros e camaradas que deram a vida nesta jornada histórica pela democracia e pela justiça”.

Apresentações musicais e um vídeo sobre a vida de João Batista, produzido pela TV Cultura, marcaram programação cultural da homenagem. Nas cidade de Ipixuna e Marabá também serão prestadas outras homenagens.

 Da redação do Portal Vermelho, com informações de Leila Márcia

FONTE: http://www.vermelho.org.br/noticia/317411-1