.
Por Lucas Fontelles

Hillary perdeu. Apesar do apoio do establishment partido democrata. Apesar do apoio de toda a imprensa americana (e mundial, como assistimos aqui no Brasil a Globo). Apesar do apoio de toda a indústria cultural americana (incluindo Beyoncé, Kate Perry, Demi Lovato, e mais Hollywood inteira). Apesar do apoio de todos os jornais econômicos do país. Apesar do apoio de praticamente todos os economistas, incluindo oito prêmios nobel. Apesar do apoio de todo o sistema financeiro, que refletia em quedas na Bolsa quando Trump subia e subidas quando Hillary crescia na campanha.
De nada adiantou, porque Trump venceu mesmo assim. Como? Impossível! Inacreditável! Absurdo! Irresponsável! É o mesmo discurso do Brexit. “Como podem fazer isso, são idiotas?”. “Como ousam não escutar os especialistas?”. Não obstante, o povo foi lá e mandou a imprensa, os partidos tradicionais, os economistas, e as bolsas de valores à merda. Há algo de admirável nisso, não? É a coragem de tentar algo diferente. Coragem que as esquerdas européia e americana não tiveram, e por isso amargam agora essa derrota. Trump não é filho de ninguém a não ser de Obama: o homem que foi eleito pra mudar tudo e não mudou nada.
Hillary tinha tudo ao seu lado, já Trump tinha apenas uma vantagem: a chamada “maioria silenciosa”. A classe trabalhadora americana, que assim como a europeia, sofreu o pão que o diabo amassou com a globalização e foi abandonada pela esquerda. Esquerda essa que abriu mão de discutir economia, desenvolvimento, emprego, soberania, e se afundou em questões simbólicas que nada querem dizer para o grosso da população. Afinal, todas as discussões econômicas eram desnecessárias desde 1989, quando a queda da URSS e o Consenso de Washington determinaram que o liberalismo e a globalização eram os únicos caminhos viáveis para a humanidade. As políticas de austeridade nos anos pós-2008 redobraram a aposta nessa tese (incluindo nossa Dilma, em 2015). O povão mandou isso ao inferno.
A maioria fala do ódio. Sim, ele existe, mas isso é o centro da discussão? Hitler tinha índices de popularidade que ultrapassava os 90%. Será que é porque 90% da população alemã era anti-semita? Ou será que é porque os sociais-democratas da República de Weimar falaram que “não havia escolha a não ser pagar a dívida alemã”, e Hitler falou que tinha, mandou um abraço aos credores internacionais, ignorou a dívida externa do país e reconstruiu sua economia? A covardia cobra um preço alto às vezes.
É a lição que fica para nós. Esquerda sem povo NÃO EXISTE. Isso serve pra Hillary, isso serve pra Dilma, pro Haddad, pro Freixo. 2018 está aí. Temos uma oportunidade à frente: o avanço do protecionismo do 1º mundo representará um abalo sísmico nos governos neoliberais do 3º mundo. As reformas econômicas de Temer fracassarão, como estão fracassando as de Macri na Argentina. O povo estará ainda mais sofrido e ainda mais revoltado em 2018. Precisamos de uma aliança ampla e de um discurso certo, que fale diretamente no coração do povo. Do contrário, corremos o risco de ver um Bolsonaro presidente por aqui.
Isso não é o fim da história meus amigos, é o seu progresso. “O velho mundo morreu, o novo mundo tarda a aparecer e neste claro-obscuro, surgem os monstros.” – Antonio Gramsci.