Moradores de Marabá e São João do Araguaia se preocupam com a situação de seca dos rios na região sudeste do Pará. São aproximadamente três meses sem registro de chuva. O nível do rio Tocantins está em 147 cm, situação que não acontecia desde a década de 70.
A pescadora Maria da Conceição Santos tem 68 anos, há 30 vive em Marabá e durante 12 anos foi pescadora. Ela, que já precisou mudar de casa por causa de enchente, vê com tristeza o rio cada vez mais seco. “Dá dó, vontade de chorar porque eu já vi esse rio cheio, muito cheio e agora só as pedras tudo de fora”, comenta.
Não é só a imagem que assusta, a mudança causada pela ação humana afetou a situação dos peixes na região. “No meu tempo eu pescava e trazia, só de Jaú trazia uns 5 ou 6, trazia uma caixa de peixe e agora não adianta, não tem mais”, revela Antonio Ferreira Santos, pescador.
Em São João do Araguaia também no sudeste do Pará, o pedral aparece cortando o rio Araguaia de ponta a ponta. O escritor João Neves, que nasceu no município, garante que nunca tinha visto o rio tão seco. “Está difícil, agora só um piloto que conheça os ramais grandes. Até para rabetas está difícil para viajar mais na beira do rio”, afirma.
A situação tem despertado a atenção de ativistas de todo o mundo. No início deste mês de setembro, um grupo de ambientalistas de oito países estiveram em Marabá e lançaram “Fórum Bem Viver”. Eles fizeram ações em São João do Araguaia e no Pedral do Lourenço, em Itupiranga. Para manter a discussão sobre a questão ambiental, principalmente nas escolas e universidades da região.
“Mexendo com o ecossitema da Amazônia vai impactando também comunidades locais, mas também os continentes do mundo”, comenta o ecopedagogo Dano Baron.
Com os rios abaixo do nível, outro problema aparece, o lixo. Voluntários começaram a retirar uma grande quantidade de entulho das margens do rio. Um grupo, que se mobilizou pelas redes sociais, se reuniu no último final de semana para fazer a limpeza das margens.
Nível do rio
A situação da seca na região hidrográfica do Araguaia Tocantis se intensificou nesse periodo. De acordo com o diretor de Metereologia da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Antônio Souza, em Marabá essa é a seca mais forte desde as registradas na decada de 70.
“O normal entre fevereiro e março é que a região tenha a situação das cheias. Nos últimos 45 anos, em torno de 40 situações de cheias foram registradas. Mas o período seco agora, que vai justamente de agosto a outubro é quando vem se intensificando essa estiagem”, afirma.