Keila Serruya apresenta em Belém seu trabalho inédito, ‘De gira e mato’, que será projetado na fachada do Palácio Antônio Lemos. ‘Cinema é para estar na rua’, diz.

 por G1 Belém.

tradição da espiritualidade amazônica, um misto de pajelança indígena e ritos negros, sua relação com a força da natureza e a sua presença na formação da identidade cultural no povo daquela região permeiam a artista visual e cineasta Keila Serruya. Natural de Manaus, capital do Amazonas, ela conta que “esses signos do povo preto” atravessam sua produção e inspiraram a obra “De gira e mato”, que ela apresenta em Belém no próximo sábado (25), no Festival Amazônia Mapping (FAM).

O vídeo traz a experiência de um banho de ervas, tradição ligada à purificação do corpo e espírito. O trabalho, pontua a artista, traz referências pessoais e familiares. “Sou negada, em diversas instâncias, quando não sou invisibilizada, sou exotificada. Toda essa conjuntura de violências me enche de desânimo, acredito que tá na hora de limpeza dos males, um banho que ajuda a resistir e continuar existindo. Os banhos com plantas de poder sempre foram algo muito presente na minha vida, a sabedoria milenar que me fez ser eu e ainda estar viva”.

“O cinema é meu canal de fala, minha ferramenta de luta e esse trabalho é um expurgo de muitos males pessoais e coletivos. Ele ainda é processo, mas conta algumas coisas sobre os meus, sobre mim e minha cura”, revela.

Keila Serruya, cineasta e artista visual de Manaus (Foto: Divulgação)

Keila Serruya, cineasta e artista visual de Manaus (Foto: Divulgação)

O “De gira e mato” começou a ser desenvolvido depois do convite FAM, e será apresentado a céu aberto, na fachada do Palácio Antônio Lemos. Para Keila, a experiência de expor seu trabalho em dimensões gigantescas a estimulou a realizar a nova obra e ampliou sua percepção sobre novas plataformas.

“Há vários teóricos que dizem que cinema é só em sala escura. Quero é praça, terminal de ônibus, quero outros lugares. Cinema pode existir em diversos espaços”, diz Serruya.

Além de Keila Serruya, outros artistas irão ocupar a fachada do Palácio Antônio Lemos na noite de sábado (25). Ricardo Cançado (MG), o VJ Eletroiman, projeta a obra “Geometria Sagrada”, uma jornada visual que parte da filosofia mística para discutir a relação do homem com o cosmos e com a natureza. Nando Lima (PA), artista multimídia, performer e diretor teatral, apresenta “Amazonian Dark Earths”, uma narrativa distópica sobre o futuro da floresta. Lucas Bambozzi (SP) apresenta o projeto “Multidão”, que retrata pequenas multidões em atos de representação política em relação às particularidades do local onde é exibido.

Shows

Além das projeções das obras audiovisuais e mapeadas, o festival terá shows. O Strobo será uma das atrações musicais do FAM, e alia à música instrumental uma roupagem pop, com influências do jazz ao carimbó. Aíla traz ao FAM o novo formato do show “Em Cada Verso Um Contra Ataque”. Ao lado do baterista Arthur Kunz e do multi instrumentista João Deogracias.

A Orquestra Pau e Cordista de Carimbó também se apresenta no Festival. Imersa em toda diversidade instrumental do ritmo mais marcante do Pará, a banda traz curimbós, recos de bambu, milheiros, matracas, maracas, caixas de rufo, pandeiros, triângulos, banjos e sopros originais do carimbó.

A noite traz ainda a poética de resistência de Shaira Mana Josy e Ádrian Lima, dupla que integra o Slam Dandaras do Norte, grupo que reúne mulheres e suas narrativas artísticas e de militância periférica e negra.

Idealizada e realizada pela 11:11 Arte, Cultura e Projetos, a edição 2017 do Festival Amazônia Mapping conta com patrocínio da Vivo via Lei Semear, do Boulevard Shopping, via Lei Tó Teixeira, e com parceria do Museu do Estado do Pará (MEP).

Serviço

Festival Amazônia Mapping 2017. Apresentações artísticas na área externa do Palácio Antônio Lemos (Praça Felipe Patroni), sábado, 25, a partir das 18h. Programação gratuita.

FONTE: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/cineasta-se-inspira-na-espiritualidade-negra-para-falar-de-resistencia.ghtml