Não se trata de fazer previsões com bola de cristal,mas de apontar alguns blocos temáticos que devem merecer atenção redobrada no ano que agora se abre.
por Flavio Aguiar
Eleições. Muitas eleições vão acontecer este ano. Aponto apenas algumas aqui: eleição presidencial na Rússia, em que Vladimir Putin deve vencer mais uma vez. A chamada “eleição de metade do mandato [presidencial]” nos Estados Unidos, escolhendo toda a Câmara de Deputados e desta vez 1/3 do Senado norte-americano: será um teste decisivo para o presidente Donald Trump, que sofreu duas derrotas sérias em 2017, nos estados da Virgínia e do Alabama. Há eleições presidenciais no Egito, Zimbábue, México, Argentina, Colômbia, Venezuela e… quem sabe, no Brasil. Na União Europeia começaremos o ano seguindo mais capítulos da emocionante novela: conseguirá Angela Merkel formar um novo governo mantendo o SPD domesticado?
No Oriente Médio, além da guerra civil na Síria, vai prosseguir a tensão entre o Irã e a Arábia Saudita, com esta emitindo sinais de fumaça que está se aproximando já não mais secretamente de Israel em nome de conter a influência daquele, com o beneplácito dos Estados Unidos. Pergunta: haverá mais países, além dos EUA e da Guatemala, dispostos a reconhecer Jerusalém como a capital de Israel? No Irã, manifestações insufladas pelo alto custo de vida (o governo dos aiatolás acusa o “inimigo externo”) deram um tom macabro ao começo do ano, com mais de uma dezena de mortos. A ala reformista do país, liderada pelo presidente Hassan Rouhani, está sob pressão. Trump, como sempre, meteu o nariz, prometendo “ajudar os manifestantes”. O que isto pode querer dizer? Boa coisa não é.
Novas lideranças estão emergindo na África subsaariana: Emmerson Manangagwa no Zimbábue, depois da queda de Robert Mugabe; Cyril substituiu Jacob Zuma na liderança (presidência) do Congresso Nacional Africano, que é o principal partido da África do Sul; e em Angola João Lourenço vai se afastando da herança do ex-prosidente José Eduardo dos Santos através de trocas no comando do país, inclusive na área militar.
Na Ásia e no Oceano Pacífico está-se criando a possibilidade da primeira guerra entre países que dispõem de armamento nuclear. Em 1945 os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre o Japão, pulverizando Hiroshima e Nagasaki. Mas este país não dispunha se armamento capaz de retaliar, e rendeu-se incondicionalmente.
Agora, apesar da desproporção dos armamentos, a Coreia no Norte dispõe de ogivas e de mísseis capazes de atingir o território do inimigo. Kim Jong-un não estaria disposto a enfrentar um inimigo centenas de vezes mais poderoso. Mas estarão os Estados Unidos de Donald Trump dispostos a conviver com a ameaça de outro país poder lançar algumas bombas A e H sobre seu território? Não esqueçamos que em Washington está o presidente mais incapaz de compreender o decoro do cargo, mais intempestivo e mais imprevisível da história do imperialismo norte-americano.
Neste início de ano Kim Jong-un deu sinais de que pode entrar em diálogo com a Coreia do Sul, acenando com uma distensão que aproveitaria o embalo dos jogos olímpicos de inverno no país “irmão”. Ao mesmo tempo declarou que tem o botão das armas nucleares na mesa. Trump respondeu com um estilo infantil, “o meu botão é maior do que o seu”, lembrando comparações chulas. A ver.
No mundo financeiro, deve-se prestar atenção ao conturbado e emergente mundo das moedas inteiramente virtuais, das quais a mais importante é a “Bitcoin”. Ela serve para transações no mundo virtual e até mesmo para algumas fora dele: algumas companhias aéreas de menor porte, por exemplo, a aceitam como pagamento para alguns de seus voos. Em 2010 podia-se adquirir uma unidade de Bitcoin, na internet, por dez centavos de dólar. Nos últimos dois anos, no entanto, ela chegou a atingir o valor de 18 mil dólares ou 400 gramas de ouro por unidade.
Cuidado: ela é muito volátil, sujeita a variações bruscas de valor para cima ou para baixo, e não é garantida por nenhum governo ou Banco Central, além de estar sujeita ao ataque predatório de hackers. Alguns governos, como o dos EUA e da Coreia do Sul, estão pensando em incidir impostos sobre sua posse e suas transações.
No mundo esportivo, 2018 será o ano de mais uma Copa do Mundo, desta vez na Rússia. Refeito da catástrofe de 2014, o Brasil está entre os bem cotados nas apostas londrinas, ao lado da França, Argentina, Alemanha, Bélgica e Inglaterra.
Além disto, temas já tradicionais continuarão a disputar as manchetes da mídia mundial: o drama universal dos refugiados na Europa e em outros lugares do mundo, a xenofobia anti-islâmica, a desagregação da Líbia, a guerra, quem sabe terminal, contra o Estado Islâmico, os ataques terroristas.
Deve-se prestar atenção também ao destino dos governos de esquerda ou centro-esquerda emergentes, além dos que se mantém, como Portugal, Bolívia, Venezuela, Equador: entre aqueles estão os da Nova Zelândia e da Islândia. Além do governo de esquerda que luta por limpar o Vaticano e seu Banco e modernizar instituições como a Cúria e a Congregação da Fé, isto é, o Papa Francisco I.