Na manhã desta sexta-feira (23), uma comissão de deputados federais paraenses começou a visitar e avaliar os danos ambientais causados pelo vazamento de rejeitos químicos provocados pela empresa Hydro. O caso é grave e foi denunciado pelo DOL ainda no sábado (17), quando moradores começaram a sentir a diferença na coloração das águas e outros impactos.
A comissão foi solicitada pelo deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL). O grupo é composto também pela deputada federal Elcione Barbalho (PMDB), pelo delegado Éder Mauro (PSD) e por Arnaldo Jordy (PPS). Estão presentes na cidade também os deputados estaduais Calos Bordalo (PT), Coronel Neil (PSD) e Lélio Costa (PSD).
Segundo Carlos Bordalo, a comissão vai avaliar os danos ambientais para pedir maior rigor na fiscalização das ações da empresa. Com isto, espera-se não somente garantir a melhoria do impacto social provocado pela Hydro como também evitar maiores danos ambientais. O deputado também destacou a necessidade de maior atenção com as licenças concedidas à empresa norueguesa, algo que já havia sido denunciado pelo DOL.
A poluição foi confirmada ontem (22) pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) a partir de amostras de água coletadas em Barcarena, que apresentaram números elevados de diversas substâncias nocivas, como fósforo, alumínio, nitrato e sódio, além da elevação da alcalinidade da águas, atestando uma situação de dano ambiental ao ecossistema local.
Ainda de acordo com laudo, as populações das três principais comunidades afetadas — Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba — possuem, em sua maioria, poços artesianos de baixa profundidade em casa, o que facilita a contaminação pelo resíduo. Uma estimativa prévia é que pelo menos 300 pessoas tenham sido afetadas pelos vazamentos recentes. Entre os principais danos causados pela contaminação, estão problemas dermatolócidos e gástricos, além de possíveis danos respiratórios.
Outro dado alarmante levantado pelo IEC é que o “risco eminente de novos vazamentos”, já que o Pará ainda vive o período de chuvas, o que facilita o transbordo das bacias de rejeitos.
Na noite da última quinta-feira (22), moradores do município interditaram o acesso aos portos da região de Vila do Conde, em um protesto contra os danos ambientais causados pela empresa Hydro na região.
O caso
Desde a última semana e principalmente na madrugada do último sábado (17), algo que já era previsto por moradores e já havia sido denunciado pelo DOL começou a ocorrer: o rompimento de barragens de rejeitos da Hydro, em Barcarena, região nordeste do Pará.
Há meses, o advogado Ismael Moraes já informava que mais de vinte bacias teriam sido construídas na área para receberem rejeitos químicos estariam causando problemas ambientais. Com as chuvas dos últimos dias, as bacias ultrapassaram sua capacidade e não foram mais suficientes para conter as substâncias, em especial bauxita, podendo causar um grave quadro de contaminação na cidade.
Os moradores denunciam que ela pratica irregularidades territoriais, ambientais e sociais, inclusive discriminação nas comunidades de Jesus de Nazaré, Burajuba, Água Verde e Jardim Canaã, onde moram quase 5 mil famílias.
Entre as denúncias mais graves está a de que a Norsk Hydro construiu um depósito de resíduos numa Área de Proteção Ambiental (APA), que é protegida por lei e onde existem comunidades remanescentes de quilombos. Na época, a Hydro negou todas as denúncias.
Problemas antigos
A polêmica sobre a criação de tais barragens e a presença da Hydro em Barcarena já foi tema de sessão especial na Câmara dos Vereadores do município, protestos de moradores e até mesmo notícia na imprensa norueguesa, como em um dos principais jornais do país, o Dagens Naeringsliv (DN) divulgou no domingo. “Alerta vermelho na Hydro no Brasil”, dizia a manchete.
Além de descrever as ações dos moradores, com o bloqueio das vias de acesso e queima de árvores na estrada, a matéria do DN revela que os cidadãos exigem do grupo norueguês compensação por danos ambientais, denunciando a contaminação da água potável e os prejuízos gerados pela produção da alumina à saúde das pessoas.
Segundo a reportagem, para cada quilo de alumínio derretido na Noruega, quatro quilogramas de lodo vermelho são armazenados em Barcarena. O aterro se estende por uma área cada vez maior e, quando o tempo está seco, a cidade fica coberta por grandes nuvens de poeira vermelha. A reportagem do DN revela que as manifestações, que se intensificaram a partir de agosto, tiveram como mote a reação à contratação de mão-de-obra externa. Enquanto a Hydro mantém algumas das maiores fábricas do Brasil no município, Barcarena sofre com altos índices de desemprego, reforçando a percepção de que a população arca com os prejuízos e não recebe nenhum benefício em troca.
(DOL)