Armando Brasil afirma que baixa efetividade na elucidação dos casos serve como combustível para aumento do envolvimento de policiais militares e agentes públicos no crime.
Para cada bairro da região metropolitana de Belém (RMB), pelo menos um grupo de milicianos é investigado pelo Ministério Público do Estado (MPPA), segundo informações do promotor de justiça militar, Armando Brasil. Ainda de acordo com o representante do MPPA, a periferia da capital é onde se concentra o maior número de policiais, agentes públicos e civis envolvidos com a criminalidade.
“O Ministério Público do Pará tem mapeado esses grupos de milícias. Em cada bairro de Belém existe pelo menos uma milícia sendo investigada. Isso acontece principalmente na periferia da capital. No bairro da Pedreira, por exemplo, tinham duas e conseguimos exterminar uma, mas permanece outra. São mais de 20 espalhadas pela cidade”, revelou o promotor, em entrevista exclusiva ao G1.
Somente de janeiro até abril deste ano, o Pará registrou 1.360 mortes violentas, ou seja, vítimas de homicídios dolosos, latrocínios e lesão corporal que resultaram em óbitos. Os dados, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, são do Monitor da Violência, uma parceria do G1com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Ao longo do ano de 2017, a média de mortes violentas no Pará chegou a dez casos por dia e a maioria está ligado com milícias. Este ano, até o mês de abril, este número chegou a 11,33. Armando Brasil acredita que o aumento de mortes e, ainda, o crescimento das milícias tem relação direta com a má remuneração dos militares, que passaram a investir no mercado paralelo dentro dos bairros.
“A má remuneração dos policiais é o principal causador disso. Os policiais exploram o mercado paralelo, onde eles acabam ganhando mais. Esse comércio envolve venda de gás, sinal de TV a cabo, entre outras coisas. Eles obrigam a população a pagar pelo serviço. E nesse processo, tem a participação de policiais e agentes públicos. Há fortes indícios desse confronto entre milícias e organizações criminosas por espaço geográfico. As investigações acontecem em sigilo, por isso não podemos dar mais detalhes de prisões, etc.”, completou.
Para o promotor Armando Brasil, outro predominante fator para a ampliação do crime em todo o estado é a omissão dos governantes.
A Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) disse em nota que a Divisão de Homicídios, vinculada à Polícia Civil, foi reforçada para agilizar a elucidação dos crimes e que os casos não elucidados ainda estão sob apuração.
A demora na elucidação dos casos funciona como combustível para os criminosos, aponta o promotor. “O percentual de esclarecimento de crimes é baixo. As organizações vão percebendo isso, essa fragilidade do estado em elucidar os casos. Isso, claro, dá mais confiança para eles continuarem nisso”, disparou.
De acordo com Armando Brasil, outro predominante fator para a ampliação do crime em todo o estado é a omissão dos governantes. “São fatores como a miséria, a pobreza e a omissão do estado, da secretaria de segurança. A saída para mudar isso é a implantação de políticas públicas efetivas. Levar serviços básicos aos bairros, como de educação”, disse.
Confira a nota da Segup na íntegra.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informa que vem investindo e reforçando a atuação da Polícia Militar a fim de combater a criminalidade na Região Metropolitana de Belém (RMB). 500 alunos do curso de Formação de Praças 2018 reforçaram o policiamento em pontos estratégicos da capital, no último sábado. Além disto, são feitas diariamente operações preventivas e repressivas como a “Ônibus Seguro” e “Polícia no meu bairro”. Existe ainda a reversão de 400 policiais militares da reserva para serviços administrativos, liberando efetivo para a atividade operacional.
A Segup informa ainda que está em fase de implementação o Centro Estadual de Inteligência pelo Governo do Estado, em fase de implementação, para abrigar – numa cooperação entre Estados da região Norte e União – também o Centro Integrado Regional de Inteligência, reunindo agentes de diferentes órgãos e Estados da região, com sede em Belém.
O prédio para receber o centro já foi definido pelo Governo do Estado e, em cerca de 30 dias, já deverá ter instalado o Centro Estadual, aguardando somente o andamento de instalação no mesmo local do Centro Regional, ampliando a cobertura e a troca de informação no combate ao crime organizado na região. No local, também vai funcionar a Divisão Especial de Investigação de Crimes contra Agentes Públicos, especialmente, policiais civis e militares.
A Segup reitera também que a Divisão de Homicídios, vinculada à Polícia Civil, foi reforçado para agilizar a elucidação dos crimes. Dos 24 Policiais Militares mortos vitimas de crimes com característica de latrocínio e/ou execução, em 2018 no Pará, 16 casos já foram desvendados com autoria presa, identificada ou morta. Os demais ainda estão sob apuração.