Em entrevista exclusiva ao G1, o diretor da Divisão de Homicídios, André Costa, explica a atuação e o “pedágio” cobrado pelas organizações criminosas.
Por Jorge Sauma, Gil Sóter e Caio Maia, Belém
poder paralelo atua de forma organizada no Pará. Há quatro tipos de milícias atuantes na região metropolitana de Belém, que seguem uma tabela de preços para cada crime cometido, segundo a Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil. As informações foram divulgadas pelo diretor da DH, delegado André Costa, em entrevista exclusiva ao G1. Segundo ele, esses dados foram obtidos por meio das investigações das mortes que ocorreram em Belém nos últimos meses. Para o delegado, grande parte desses homicídios tem envolvimento com grupos milicianos.
“Nós da Divisão de Homicídios estamos trabalhando na investigação das estruturas do crime. Buscamos saber qual o grupo criminoso está se consolidando em determinada área para trabalhar de forma incisiva para desarticular isso”, diz o diretor da DH.
De acordo com o delegado, as milícias no estado atuam no transporte alternativo, contrabando de mercadorias, tráfico de drogas e na segurança armada privada. Segundo ele, em todos os casos, são prestados favores em troca de dinheiro. Caso não seja paga a taxa estipulada, a punição acontece por meio de advertências verbais, físicas ou com a morte.
“Essas milícias são concentradas em Belém e nos municípios próximos. Nesse caso, nós já tivemos algumas mortes que estão sendo investigadas”, comenta André Costa.
Tipos de milícias atuantes na Grande Belém
- Transporte alternativo: Acontece quando um grupo domina territorialmente um local e cobra taxas para que as pessoas exerçam o seu trabalho. No caso do transporte, são abordados mototáxistas e motoristas de vans. Segundo o delegado, caso a cobrança não seja paga, essas pessoas são expulsas do local ou mortas.
- Contrabando: Grupo de pessoas que são contratadas para fazer a segurança do transporte da carga contrabandeada pelos rios do estado. De acordo com o delegado, as embarcações são levadas até o estado do Amapá, onde se encontram com navios internacionais. O delegado afirma que os barcos que não têm acordos com milicianos são roubados. Caso esse material seja colocado a venda no mercado, a milícia cobra um juros sobre a mercadoria.
- Segurança armada privada: São grupos que ofertam segurança privada para alguns comerciantes, em troca de alguns valores especificados. Essas milícias identificam os estabelecimentos com uma placa ou adesivos. Caso ocorra algum tipo de atentado contra aquele local, o grupo toma uma iniciativa de punir os ofensores. Caso o estabelecimento opte por não fazer o acordo com a milícia, ele é assaltado.
- Tráfico de drogas: Devido à alta rentabilidade do tráfico de drogas, alguns grupos milicianos começaram a exigir taxas de alguns traficantes para que a venda continuasse a acontecer. Caso contrário, os traficantes são mortos ou expulsos da localidade.
Segundo o Ministério Público do Pará (MPPA), esses grupos estão espalhados por todos os bairros da cidade. De acordo com o promotor de justiça, Armando Brasil, para cada bairro da região metropolitana de Belém, pelo menos um grupo de milicianos é investigado. Ainda de acordo com o representante do MPPA, a periferia da capital é onde se concentra o maior número de policiais, agentes públicos e civis envolvidos com a criminalidade.
“A má remuneração dos policiais é o principal causador disso. Os policiais exploram o mercado paralelo, onde eles acabam ganhando mais. Esse comércio envolve venda de gás, sinal de TV a cabo, entre outras coisas. Eles obrigam a população a pagar pelo serviço. E nesse processo, tem a participação de policiais e agentes públicos. Há fortes indícios desse confronto entre milícias e organizações criminosas por espaço geográfico. As investigações acontecem em sigilo, por isso não podemos dar mais detalhes de prisões, etc.”, completou.
Segundo o delegado André Costa, o envolvimento de policiais militares em outras atividades fora do horário de serviço é ilegal. “Existe o policial que está fazendo o ‘bico’, coisa que o regulamento não permite. Eles recebem remuneração em tempo integral justamente para não trabalharem fora de serviço”, afirmou o delegado.
Crime tabelado
O poder paralelo segue uma tabela de preços para os crimes que comete. O delegado afirma que o valor cobrado pelos milicianos é flexível, podendo mudar de acordo com a atividade exercida ou área de atuação.
“No caso do tráfico de drogas, geralmente é cobrado 30% em cima do valor vendido. Em relação à vigilância armada, o valor varia de R$50 até R$200 por mês. Já com relação ao transporte alternativo, nós temos uma diferença entre o mototáxi e a van. No mototáxi é cobrado em R$20 a R$25 por semana e a van de R$50 a R$100 por semana”, afirmou André Costa.
André Costa afirma que, mesmo com as investigações, ainda não se sabe quais são as taxas cobradas pela milícia do contrabando. “É um grupo muito fechado e não temos muitas informações. Nos depoimentos eles falam pouco e não se reconhecem como contrabandistas. Eles têm medo de colocar algo no papel”, diz.
O delegado ainda diz que a disputa entre milicianos e traficantes de droga por áreas de atuação é o principal fator para o aumento do número de mortes no estado.