Os sem terra reocuparam na última sexta-feira, 27, a fazenda. Segundo eles, a invasão ao acampamento deles neste sábado (28) foi a mando do proprietário da fazenda na tentativa de forçar a desocupação na área.
A Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) ainda investiga a denúncia do ataque ao grupo de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na área da fazenda Santa Tereza, em Marabá, sudeste do estado, na madrugada deste sábado (28). Os sem terra reocuparam a fazenda na última sexta-feira (27), mesmo tendo ocorrido uma reintegração de posse na Fazenda Santa Teresa em dezembro de 2017. Na invasão deste sábado, os sem terra teriam sido hostilizados. Até agora, seis pessoas do MST foram ouvidas.
As barracas e motos deles foram destruídas e carros foram queimados. Segundo os camponeses, o ataque na madrugada de sábado foi a mando do proprietário da fazenda na tentativa de forçar a desocupação na área. A PM informou que até o momento não recebeu qualquer denúncia sobre a participação de PMs no fato ocorrido durante a madrugada. De acordo com o delegado Alexandre França, que acompanha o caso, equipes da Deca acompanharam uma perícia feita nesta segunda-feira na fazenda. Os donos da propriedade e integrantes do MST devem prestar depoimento nesta terça-feira (31) em Marabá.
A polícia explica que, ao reocuparem o local na última sexta-feira, os cerca de 80 sem terra também incendiaram máquinas e mataram animais. “A equipe da Deca se deslocou até o local, só que, chegando lá, não foram recebidos pelo pessoal do movimento. Mas foi constatado que realmente eles reocuparam o local e foram registradas imagens do trator incendiando e dos animais abatidos no local”, diz o delegado Alexandre França.
O MST diz que na ação da madrugada haviam pistoleiros e policiais sem farda e eles agiram com violência para retirar as pessoas da área. “Nos preocupa o fato dessa ação ter sido orquestrada e conduzida pela PM, pela Deca e pela pistolagem da região. Foram eles que conduziram. Bateram, agrediram as pessoas e muitos se refugiaram na mata pra não morrer”, diz o coordenador estadual do MST Raimundo Nonato.
A Comissão Pastoral da Terra da CNBB também confirma que houve um ataque e questiona a polícia e o poder Judiciário sobre os conflitos agrários no Pará e a demora nas investigações.
“Os órgãos que deviam cumprir o seu papel estão todos de braços cruzados. A polícia não investiga a organização criminosa da pistolagem”, diz padre Paulo da Silva, da Comissão Pastoral da Terra.
Reintegração em 2017
Em 2017, houve reintegração de posse na Fazenda Santa Tereza. Na época, o MST confirmou ter sido hostilizado à noite. Além de atear fogo ao redor do acampamento, os pistoleiros também teriam disparado contra a entrada do local.
O Tribunal de Justiça do Pará informou que na região de Marabá, entre abril e maio deste ano, quatro fazendas foram reintegradas e que ainda há mais quatro que serão devolvidas aos donos apenas depois das eleições.
“A Polícia Civil do Pará não vai poupar esforços para investigar todos os crimes que foram cometidos em ambos os lados, tanto no ato da reocupação quanto no ato do que parece ser uma desocupação forçada”, disse o delegado Alexandre França.