Força-tarefa da Polícia Federal visitou a reserva na segunda-feira, 24, e não descarta possíveis conflitos no futuro. Cerca de 80 indígenas apreenderam tratores e máquinas utilizados por madeireiros.
Uma força-tarefa, liderada pela Polícia Federal, foi à reserva indígena Alto Rio Guamá, no nordeste do Pará, na segunda-feira (24) para evitar um conflito entre indígenas da etnia Tembé e madeireiros.
A Superintendência Regional da PF no Pará comunicou em nota que após visitar a reserva indígena com representantes da Funai, da Secretaria de Meio-Ambiente (Semas) e com a Polícia Militar de Paragominas, não foi constatado um efetivo conflito e nem mortes no local. Ainda assim, a PF classificou como situação delicada e por isso não descarta a possibilidade de eventuais conflitos.
As equipes da PF retornaram para Belém nesta terça-feira (25). A Semas e a PM vão apreender os veículos que estão dentro da reserva ambiental e abrir um processo administrativo nesta terça-feira.
Entenda o caso
Cerca de 80 indígenas, armados com pedaços de pau e arco e flecha, apreenderam tratores e máquinas utilizados por madeireiros. Eles denunciam os conflitos com os madeireiros e pediram reforços aos órgãos de segurança, temendo ataques.
O coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Pará, Juscelino Bessa, disse que uma equipe foi deslocada para a área para averiguar a situação. “Devemos fazer as autuações necessárias e tomar as medidas que possam ser tomadas”, disse.
A Reserva Indígena tem aproximadamente 279 mil hectares e abrange pelo menos quatro municípios do Pará. A área é de competência da União e é protegida por lei. Nela, vivem cerca de 1800 indígenas, sendo a maioria da etnia Tembé. O local do conflito fica na aldeia Tecohau.
Policiais federais, militares e técnicos da Secretaria de Meio Ambiente do município de Paragominas estão na reserva. A orientação é retirar o maquinário apreendido para evitar conflitos.
O secretário de Paragominas, Felipe Zagalo, veio a Belém para tratar da questão com a procuradoria da República e disse que vai manter “diligências frequentes” para combater o avanço dos madeireiros e “pacificar o clima” na região.
“Estamos buscando parcerias junto com o Ibama porque a área é muito grande. E junto com o Ibama podemos fazer o monitoramente junto com os indígenas para coibir essa exploração”, afirmou.
Histórico de devastação
Claudia Kahwage, gerente de projetos do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-bio), disse que desde 2016 a exploração tem aumentado em mais dez anos de extração ilegal na região.
“Os indígenas têm declarado que a extração ilegal aumentou bastante, citando em documentos que 50 caminhões de madeira ilegal saem por dia da terra indígena”, informou.
O Ideflor-bio atua na região para preservar espécies da fauna e flora ameaçados de extinção, além de desenvolver projetos para reflorestar a área devastada. “No entanto, a gente não consegue avançar nessa situação do reflorestamento, de pensar na gestão do território por conta de toda essa situação de conflito que os Tembé vivem. Eles são pressionados de todos os lados”, comentou Kahwage.
Em junho deste ano, uma operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), com apoio da PM, apreendeu mais de 1800 metros cúbidos de madeira e 1,2 mil litros de agrotóxicos na Terra Indígena (TI) Tembé. A madeira, segundo o Ibama, seria equivalente a 150 caminhões carregados.