Por Paulo Fonteles Filho e Angelina Anjos

Brasil e Estados Unidos têm em comum números trágicos. A força policial brasileira é a que mais mata no mundo. A americana é considerada uma das três polícias mais violentas. É o que diz um relatório da organização Anistia Internacional, divulgado em 2015.

No país há uma “classe perigosa”, composta por jovens negros e moradores da periferia. É com esta premissa que opera a repressão policial no país, afirma o diretor da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque.

Em entrevista à Ponte, Roque diz ainda que existe, por parte da sociedade, grande aceitação das mortes cometidas pelos agentes das forças de segurança, principalmente devido à forma como normalmente esses crimes são retratados pela chamada “grande mídia” que esconde o caráter de genocídio que o tema enseja, além de criminalizar as periferias, onde milhões de brasileiros se espremem entre a pobreza, a fome, o tráfico de drogas e a polícia que mata.

A fotografia que mais expressa o quão forte é a política do medo, racista, fundamentalista e de extrema-direita foi o resultado eleitoral de 2014 que reforçou a “bancada da bala” – em diversos níveis – composta, dentre outros, por Jair Bolsonaro (PSC/RJ), Paulo Telhada (PSDB/SP) e Eder Mauro (PSD/PA).

No caso paraense o delegado de carreira Eder Mauro, que foi o mais votado por conta de uma superexposição na mídia local, em programas sensacionalistas, é investigado pelo STF pelos crimes de extorsão e tortura.

O processo remetido do Tribunal de Justiça do Estado do Pará ao STF, em setembro, envolve pai e filho – uma criança de 10 anos – como supostas vítimas. O crime teria ocorrido em 2009.

Aliás, o deputado federal delegado Eder Mauro possui um currículo de violações de direitos que daria inveja ao major Curió, figura nefasta da ditadura que o delegado insiste em apoiar e usar como exemplo.

Dentre muitas ocorrências que o denunciam não poderia faltar violência contra mulher. A vítima e dois filhos teriam sido ameaçadas de execução sob a mira de armas de fogo. O relatório do Ministério Público sobre o episódio menciona “intensa sessão de espancamento” e “violento sofrimento físico e mental, conforme exame de corpo de delito realizado nas vítimas”.

Podemos acrescentar a isso uma naturalização da violência que resulta em um grau alto de intolerância onde os direitos humanos são criminalizados por ‘defenderem bandidos’. E esse discurso alimenta a barbárie e encobre o fato de que muitos agentes públicos e inocentes também são mortos no cotidiano das periferias da Região Metropolitana de Belém, uma das mais favelizadas no país.

Sem uma mudança de fundo na doutrina da segurança pública e na estrutura militarizada das polícias, juntamente com um compromisso efetivo das altas autoridades do estado, a começar pelo governador, com um policiamento voltado para a garantia do direito à segurança pública de todas as pessoas, independente da classe social, local de moradia ou cor da pele, continuaremos a conviver no Brasil e em Belém com a triste realidade de ter uma das polícias que  mais mata e mais morre do mundo.

Belém ocupa a segunda posição no ranking da violência quando se considera a taxa de homicídio por 100 mil habitantes. É possível que esse número já tenha piorado com a escalada da violência que continuou abalando a cidade nos três últimos anos, mas em 2007 sua taxa era de 34,2, com crescimento de 39,7% sobre a de 1997.

A polícia que mata e morre todos os dias não serve de modelo para o desenvolvimento de nenhum Estado. O fato de atuar com violência não lhes prescreve segurança, tampouco, cidadania. A violência precisa ser combatida com ampliações de direitos sociais, que possa incluir os profissionais da segurança pública.

Na contramão da sociedade que vive os aspectos de um modelo de segurança pública pautado em mais violência e menos direitos, os cidadãos são reféns do medo e das mortandades e são capacitados a entender que “bandido bom é bandido morto” desde que esse bandido não seja o Eduardo Cunha. Não é mesmo?! Que diga a operação Lessons, da Polícia Federal.

Eder Mauro, o deputado delegado, que com sua prática faz apologia a violência quando defende a diminuição nas restrições para aquisição de armas e a ampliação do porte para mais categorias profissionais, entre tantas outras aberrações, têm como alvo os mais fracos e a limpeza social – sempre contra a juventude e as mulheres da periferia – é uma prática ideológica levada às ruas através da ação de milicianos e em programas sensacionalistas baratos.

Eder Mauro, que é pre-candidato à prefeitura de Belém, deve ser derrotado para avançar a visão e a prática institucional que compreende que a segurança pública é um dever do Estado e um direito humano, que deve estar serviço à vida e não à criminalização e morte da juventude negra e das periferias paraenses.

Fonte: Blog do Paulo Fonteles Filho. http://paulofontelesfilho.blogspot.com.br/2016/06/eder-mauro-policia-que-mata-e-o-futuro.html