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O discurso do ódio, o martírio de dona Marisa e a moral fascista.

 

Por Paulo Fonteles Filho*

No curso do avanço da extrema-direita no Brasil um corolário de manifestações de ódio e intolerância procura intimidar vozes alternativas, blogs de esquerda e de direitos humanos, personalidades democráticas, artistas e lideranças populares que, via-de-regra, tem sofrido achaques de toda a sorte nas redes sociais, aeroportos, restaurantes e até em hospitais.

Ora, o que nos ensina o martírio de dona Marisa Letícia, ex-primeira dama, acometida por um AVC político, como sugere o jornalista Paulo Henrique Amorim?

A família, devassada por denúncias falsas, atingida em sua integridade e vítima de um atentado da pior morte, a moral, enfrentou pressões, covarde assédio e a imoral invasão domiciliar, na alta madrugada por agentes federais, revirando tudo e ousando carregar o presidente Lula para um voo sem volta à liberdade.

O escárnio, só não se realizou, porque houve resistência popular no Brasil e a grita ensurdecedora de personalidades e instituições multilaterais, mundo afora.

Como ensina outro jornalista e escritor, Leandro Fortes: “Todos sabemos os nomes, cargos, redações e togas de cada um dos responsáveis pela morte de Dona Marisa”. Sim, sabemos quem são e principalmente o modus-operandi na prática ensejada pelo terror de classe.

Ocorre que os “galinhas-verdes” de nossos dias, fascistas com Smartphone, saíram dos baús da vergonha – depois de quase trinta anos do fim da ditadura militar quando, historicamente, sofreram pesado revés político – após a derrota de Aécio Neves, do PSDB, em 2014.

Ato contínuo à vitória de Dilma nas últimas eleições presidenciais todo o esgoto midiático foi despejado sobre a frágil consciência social dos brasileiros e a pós-verdade – momento em que a mentira reina e radicaliza-se o discurso do medo – ganhou, como maestros, as dantescas figuras de Sérgio Moro e Jair Bolsonaro, duas faces da moeda sórdida da Casa Grande, dos pelourinhos, legado dos grilhões e suplícios pedagógicos, herança de 300 anos de escravidão no Brasil.

O discurso de ódio e os linchamentos morais e políticos tem sido legitimado pela grande imprensa, por setores dominantes do judiciário e pela elite conservadora que, enfim, destituíram da Presidência da República Dilma Roussef, promovendo um duro golpe democrático, entrega das riquezas nacionais, empobrecimento de amplas massas e quebra dos direitos sociais dos trabalhadores e do povo brasileiro.

É sob essa quadra regressiva e intolerante que defensores de direitos humanos e militantes políticos têm sido testados nos brios e resistências. Lembram da violenta prisão do ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ou das bombas jogadas em direção ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e ao histórico democrata e socialista Roberto Amaral, tudo na São Paulo de Alckmin? Isso sem falar de ações repressivas bem calculadas, de dar inveja ao extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), como foi o caso da infiltração do capitão Balta e a prisão e criminalização de dezenas de brasileiros que ousaram ganhar as ruas para denunciar o golpe em curso.

O desaparecimento físico de dona Marisa, mulher discreta e militante engajada revelou, ainda, toda a sordidez que a alma humana é capaz de carregar: o vazamento de uma tomografia situando a grave condição clinica da ex-primeira dama, pela médica Gabriela Munhoz fez grassar, nas redes sociais, a bílis malsã do ódio de classe.

Não à toa que um outro neurocirurgião, não identificado, chegou a fazer comentários que daria urticária em Hipócrates, o pai da medicina: “Esses fdp vão embolizar ainda por cima”, escreveu – o procedimento de embolização provoca o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado local. “Tem que romper no procedimento. daí já abre pupila. E o capeta abraça ela”, escreveu o médico.

Mais do que nunca é preciso enfrentar o discurso do ódio e a moral fascista, principal inimigo da nação, do progresso social e do povo brasileiro.

Descanse em paz, dona Marisa!
#ForçaLula

*Paulo Fonteles Filho é Presidente do Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos, poeta, blogueiro e membro da Comissão da Verdade do Pará.