Por Aruan Guerra Fonteles.
Como todos nós sabemos (ou deveríamos saber) o golpe militar teve início em 1964. Antes disso, ocorreu uma crise institucional em 1961 causada pela renúncia do Presidente Jânio Quadros. João Goulart, o vice, sofreu oposição dos militares e conservadores.
João Goulart era simpático das camadas do povo e apoiavas as reformas de base (agrária, bancária, fiscal) em função disso os militares promovem o golpe. Esta tirania obteve patrocínio norte-americano, os yankes tinham medo da ameaça comunista que assolava os países da América do Sul, inclusive o Brasil. Então foi agenciada uma ditadura para tentar acabar com a liberdade de expressão do povo. Ocorreram várias invasões em universidades, como foi o caso da UNB e da PUC- SP, além do assassinato do estudante paraense César Moraes Leite, numa sala de aula da UFPa em 1980.
Em uma dessas invasões, em 1971, na Universidade Nacional de Brasília, meus avós Hecilda Fonteles e Paulo Fonteles foram presos pelo regime, minha avó já estava grávida de quatro meses de meu pai Paulo Fonteles Filho. No silêncio mórbido da prisão ressoavam os gritos: “Filho desta raça não deve nascer.” Junto com os gritos eram distribuídos chutes e socos a uma alma inocente, que só lutava por igualdade.
Meu pai nasceu e hoje é um bravo guerreiro e resistente desta mancha do nosso passado.
Desde pequeno Ele me contava histórias sobre o tal período, eu ficava abismado e pensando comigo mesmo: “como um homem pode bater em uma mulher e por cima grávida!”. Hoje em dia já começo a entender o inatendível pensamento dos generais que davam ordens aos soldados.
Depois de alguns anos, em 1987, meu avô foi assassinado: ele era o líder da reforma agrária no Pará e amigo do povo, o que incomodava os latifundiários. Vocês podem pensar que este assassinato não teve relação com a ditadura, porém este crime foi um recado da UDR e de agentes da repressão política.
Eu, Aruan, carrego as marcas da ditadura. O filho desta raça nasceu. Os netos viverão para defender a democracia e a liberdade.