por Angelina Anjos

Belém anoiteceu com o assassinato da reconhecida voz da periferia, Srta. ANDREZA, 22 anos, e uma vida marcada pela exclusão social que decepa o presente e impossibilita o futuro.

O relatório da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Estado do Pará prova que o “justiçamento” não passa de simples extermínio, conduta autoritária, criminosa, atentatória contra o Estado Democrático de Direito, as liberdades individuais e constitui-se como poder paralelo aos poderes constituídos sempre é motivado por dinheiro ou vantagens de qualquer natureza, não existe “justiçamento”, existe  oportunidade de ganhar dinheiro.

Aqui a milícia mata e tenta confundir e aterrorizar com toque de recolher, inventa que o bando da srta iria sair pra matar, mas quem mata é a milícia. A srta mal tinha o que comer, ela sonhava em ter uma vida tranquila, longe do bairro que morava e tinha medo. Quem cuidou do medo dela?

O palhaço que estava tatuado no braço da jovem assassinada era o coringa do filme do Batmam. O mesmo desenho já vi no braço de um jovem da classe media mas como é branco e classe média não significa a mesma coisa que num braço de pobre?

Srta. Andreza era uma jovem pobre, negra, mãe preocupada com o futuro da filha e morava no bairro da Cabanagem, quem comanda por lá é a lei do tráfico e a moça chamou atenção do fato e temia por sua vida. Vida tão sofrida e tão curta. Virou estatística e mesmo morta é violentada. Quem vai pagar pela cabeça da filha da srta que tem menos de 5 anos de idade?

Traficante não passa fome, quem passa necessidade é “avião”, quem financia o tráfico é a galera da classe média e alta que só sabe ser feliz cheirando o seu pó, fumando a sua nóia, dentro de suas coberturas e sacadas gourmet. O nome disso é hipocrisia. Quem é o palhaço?

Segundo o relatório da CPI das milícias é inadmissível que o Estado saiba onde se localizam os criminosos em suas bocas de fumo e aparelhos clandestinos e não tome a iniciativa de atacar com veemência estas estruturas, estrangulando-as. Mandando o recado correto para a sociedade, qual seja o de que não haverá trégua para o tráfico e às condutas a ele associadas, inclusive as milícias e seus integrantes, lavrando quantos flagrantes sejam necessários, independentemente do desfecho judicial dos processos punitivos.

22h e Belém parecia um cenário de guerra, a Segurança Pública colocou seus homens e mulheres para combater o toque de recolher da milícia. Motos da Polícia Militar, com escopeta nas mãos e a vida dos policiais em sério risco. Sinalizavam a resposta que a Segurança é o Estado que comanda.

Antes de fazer apologia ao assassinato da juventude da periferia, tenta saber o quanto da falta de políticas públicas, a falta de escola de qualidade, a falta de perspectiva submete qualquer ser humano. Visite a periferia e não compactue com discurso de ódio, a próxima vítima pode ser qualquer um de nós.

O criminoso manda áudio de ódio e alienação social, espalha a criminalização dos pobres e pretos, fala de mulher pobre, preta e assassinada como lixo. E quem é o palhaço?

Dentre as vinte e oito recomendações da CPI das milícias, estão duas que caracterizo importante ressaltar: Trabalhar a relação com os meios de comunicação e cobrar uma postura com relação a uma política de paz e valorização dos Direitos Humanos e RECOMENDAÇÕES URGENTES REFERENTES AO PPDDH. Quem defende a cultura de paz e exige aplicação de políticas sociais e públicas, os defensores de direitos humanos sofrem a criminalização e estão exposto à ordem das matanças dos grupos de extermínio. Quem é o palhaço?

Somos todos submetidos à fantoches de uma dúzia de imundos que acreditam que violência se combate com matança, acontece que dessa mortandade ninguém está à salvo e a periferia sangra.

Solidariedade aos familiares da Srta. Andreza