Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST
Fotos: Rica Retamal

O ex-presidente uruguaio José ‘Pepe’ Mujica visitou nesse sábado (6) a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece até o domingo (7), no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo.

Antes de participar de uma conferência sobre o direito a uma alimentação saudável, Mujica conversou por cerca de uma hora com representantes de meios alternativos de comunicação. Diante de vários jornalistas e comunicadores, ele começou tecendo críticas ao jornalismo contemporâneo, que prioriza o imediatismo da notícia à construção coletiva da cultura.

“Antigamente, quando não existia internet, o jornalismo era parte da construção da cultura das sociedades. As mudanças do tempo, a velocidade dos meios, as tecnologias, as invenções do mundo contemporâneo, foram criando na modernidade o jornalismo instantâneo da notícia. Muito mais do que a tentativa de construir a cultura coletiva das sociedades”.

“Como latino-americano, aqui estou com os meus velhos ossos, porque o mundo está se globalizando pela pressão das multinacionais, pelo jogo do capital financeiro e pela explosão tecnológica, e não pelo interesse concreto da espécie humana”, disse o ex-presidente ao defender a unidade dos povos em defesa da vida. “Ou conquistamos uma integração e uma forma de respeito mútuo para marchar com paz no mundo. Ou deixamos hipotecado o futuro das gerações que virão depois de nós”.

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 “É preciso seguir lutando pela terra!” Foto:
Rica Retamal

Ao falar da questão agrária no Brasil e na América Latina, Pepe Mujica lembrou que ‘a história da América Latina é a história de duas nações feudais, que repartiram a terra com critérios feudais’, o que explica, em parte, a alta concentração de terras em grandes latifúndios em todos os países do continente. Nesse sentido, defendeu a luta do Movimento Sem Terra e dos movimentos camponeses ao redor do mundo. “É preciso seguir lutando pela terra! A terra não deve ser propriedade privada, mas sim propriedade de uso, de trânsito. A terra pertence à humanidade”.

Para ele, não se trata de lutar pela propriedade de um pedaço de chão, mas pelo legítimo direito de desenvolver uma cultura camponesa, que nos permita garantir uma alimentação de qualidade para todos e todas. “Tudo é importante, mas nada é tão importante quanto a comida. E a comida sai do cultivo da terra e do trabalho. Isso pode não ser a coisa mais brilhante que já descobrimos, mas é preciso comer para viver. Isso é um fundamental! Portanto, é preciso cuidar da terra”.

Frentes aos retrocessos políticos em diversos países da região e do mundo, Mujica lembrou que na história da humanidade sempre existiu a disputa de ideias e a luta política, mas que o fundamental é compreender a capacidade das sociedades contemporâneas para superar suas contradições e resolver os grandes problemas do mundo.

“Nosso tempo é maravilhoso porque nunca antes na história existiram os meios que existem hoje, que nos permite dizer que, tecnicamente, pela acumulação de capital e conhecimento, o homem contemporâneo pode varrer com as misérias fundamentais que existem na Terra. Tem os instrumentos. O homem contemporâneo pode inventar rios, pode construir mares no meio do deserto. Tem a força suficiente. O homem de hoje tem a capacidade de reverter muitos desastres que fez”.

A 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária acontece até o domingo (7) no parque da Água Branca, zona este de São Paulo.

*Editado por Iris Pacheco