A percepção de que Brasil está “à deriva” e o presidente Michel Temer terá mais dificuldades para se livrar da segunda denúncia do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, do que na primeira, é uma constatação de parlamentares da oposição e da base de Temer, convidados para um jantar na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) na noite de terça-feira (3).

Foi o próprio presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presente ao jantar, quem fez a constatação das dificuldades de Temer. Os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Armando Monteiro (PTB-PE), Jorge Viana (PT-AC) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), assim como os deputados Carlos Gaguim (PMDB-TO) e Silvio Costa (Avante-PE), estavam na reunião, entre outros. Porém, Maia considera que o presidente terá os votos para se livrar da denúncia

“O que uniu todo mundo lá é o reconhecimento da grave crise institucional que nós vivemos. Não era só o Rodrigo Maia, havia vários parlamentares da base do governo que relatavam as dificuldades que ele está enfrentando, pela forma como vem tratando os deputados”, disse a senadora Vanessa Grazziotin à RBA.

“O Congresso já não responde mais ao chamado do Executivo. Nós estamos vivendo num país à deriva. A avaliação é de que é incerto o resultado, e que o Michel terá muito mais dificuldade agora do que teve na primeira.” Em 2 de agosto, Temer se livrou, na votação da primeira denúncia, por 263 votos a 227.

As ações de Temer estão causando tumulto entre os próprios aliados. “No PSDB, há a convicção plena que tem o dedo do Temer na escolha de um peessedebista para relatar a segunda denúncia”, diz Vanessa.

A nomeação do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) para relatar a segunda denúncia na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara acirrou os ânimos entre tucanos favoráveis e contrários a Temer. Nesta quinta-feira (5), o PSDB anunciou ter tirado o Bonifácio de Andrada, favorável a Temer (MG), da vaga do partido na CCJ. Para ele continuar na relatoria, da qual não abriu mão, um dos partidos aliados teria que ceder uma vaga para Andrada.

Qual sua percepção em relação ao jantar oferecido por Kátia Abreu em relação ao clima no Congresso e ao julgamento da segunda denúncia contra Michel Temer na Câmara?

A Kátia fez questão de dizer que não era uma reunião de conspiração. “Minha casa jamais seria palco para isso”. A reunião foi para trocar algumas ideias, houve falas de diversos tipos. O que uniu todo mundo lá é o reconhecimento da grave crise institucional que nós vivemos. Inclusive, não era só o Rodrigo Maia, havia vários deputados da base governista que relatavam as dificuldades que o governo está enfrentando, a forma como ele vem tratando os deputados. Fazendo promessas como se estivesse vendendo fiado.

Há uma grita geral. Tem a ação do Michel Temer que vai no enfrentamento de alguns partidos da base. No PSDB, como foi dito lá, há a convicção plena que tem o dedo do Temer na escolha de um peessedebista (Bonifácio de Andrada-MG) para relatar a segunda denúncia. E o pessoal do DEM, um bocado chateado com as ações do Temer contra o partido. A reunião avançou no aspecto de qual o papel que o parlamento deva cumprir nesse momento, independentemente do que venha a acontecer.

Mesmo que não tenha tido um tom de conspiração, a preocupação é grande…

Existe. De todos, e da base principalmente, porque não há voz de comando vindo do Planalto, e isso dito pelo próprio Rodrigo Maia, e ele não diz nenhuma novidade. É aquilo que nós já sabemos. Não acontece nada no Congresso Nacional do que queira o governo.

O governo não consegue dar andamento a suas demandas?

O Congresso já não responde mais ao chamado do Executivo. Nós estamos vivendo num país à deriva. A avaliação é que é incerto o resultado, e que o Michel terá muito mais dificuldade agora do que teve na primeira.

Segundo algumas análises, Rodrigo Maia estaria sofrendo pressões para que ele próprio comande o processo de transição. Para outros analistas, esse momento poderia ter sido na primeira denúncia, mas passou. Qual o papel de Rodrigo Maia?

Não chegamos a entrar nesses detalhes. Não chegamos a discutir sobre o papel que ele cumpre. Até o senador Armando (Monteiro) foi muito enfático, no sentido de que, na opinião dele, o presidente da Câmara tem que ser presidente da Câmara e tão somente isso. Ou seja, filiação partidária, defesa de partido, é algo que cabe aos líderes partidários, e não a ele, se quiser dar a contribuição que o país precisa. Mas se há a possibilidade de Rodrigo Maia assumir o lugar do Temer, se o tempo dele já passou, isso não se cogitou na conversa.

 Fonte: RBA

FONTE: http://www.vermelho.org.br/noticia/302782-1