Depois de quase 35 anos de convivência, hoje, dia 26 de outubro, quando Darcy Ribeiro completaria 95 anos se vivo estivesse, foi o dia de (re)encontrar meu amigo, meu irmão, meu camarada Paulo Fonteles Filho. Logo na data do aniversário de Darcy Ribeiro, Paulo, tu marcaste este (re)encontro? Darcy que se orgulhava de ter perdido as batalhas que lutou, pois preferiu perder a estar do lado dos que as ganharam.

Marcaste, Paulinho, como local para nos (re)encontrar a Assembleia Legislativa do Pará, onde aos 15 anos de idade, no momento em que era velado o herói do povo Brasileiro, Paulo Fonteles, teu pai, tu decidiste filiar-se ao Partido Comunista do Brasil. E fizeste desses 30 anos de militância um libelo dedicado ao povo do Brasil, a sua libertação.

E como foi bom, Paulo, te (re)encontrar no meio de tantos amigos queridos, de tantas pessoas que te amam, te respeitam, e que vieram te abraçar. Aliás, os abraços foram inúmeros, todos tenros, fraternos, calorosos, irmanados na luta pela vida, pelos trabalhadores, pelo povo, pelo Brasil, tão maltratados nesses tempos terríveis de golpes, de esgoto conservador, de ameaças a liberdade.

Mas, Paulinho, todos nos perguntávamos por que marcaste este (re)encontro para partir, para nos deixar? Mesmo estando lá, Paulo, com teu semblante sereno, tranquilo, tu nos deixaste.

Tolos somos nós, pois na tua generosa genialidade, tu nos deixaste nos dando uma última lição de que é preciso percebermos o quanto é importante nos juntarmos, nos reencontrarmos e lutarmos para nesse momento unir mais o povo brasileiro, todos os que anseiam e querem lutar por um país livre, sem amarras e preconceitos.

É Paulo, atônitos estamos todos a nos perguntar: por que nos deixas em um momento em que nossa luta mais precisa de gente como tu? Só mais tarde vamos compreender que estais nos chamando a refletir sobre os caminhos da luta, para que percebamos que sofremos sim uma derrota estratégica, mas que lutar é mais que preciso. E que nossa luta tem que ser como os rios de nossa imensa Amazônia, com caminhos sinuosos, cheio das curvas, e que nesses caminhos o que vai nos fazer não se perder é o horizonte, o rumo.

Talvez também, Paulinho, fizeste este caminho, esta partida, para com sua genialidade, dizer aos tantos que tentaram tirar a tua vida, que este gosto eles nunca terão.

Com o calor dos muitos abraços nos despedimos de ti com a certeza de que estarás sempre presente em nossa luta, com sua vida inspiradora. Estarás conosco, como semente plantada no coração da memória afetiva de nosso povo e de sua luta. Vá, Paulo, vá e nos acompanhe sempre, na luta e nos sonhos, até a vitória.

Jorge Panzera
Presidente do PCdoB no Pará