Por Leonardo Giordano*

A candidatura da Manuela D’Ávila me anima bastante em um cenário de descrédito na política e necessidade de renovação.

Ainda assim, é muito importante falar do que está acontecendo com o Lula, apontar as anormalidades sucessivas com a qual tem sido tratado pelo judiciário e tomar lado claro pela normalidade democrática no Brasil. Eleição sem Lula é golpe – de novo.

Em primeiro lugar, é sempre bom lembrar o quanto é frágil nossa democracia, historicamente apenas recém conquistada. Dos quatro presidentes eleitos desde a reabertura, metade sofreu impeachment. Isso não parece muito estável, nem é normal mundo afora. Na democracia americana, que foi o primeiro modelo de sufrágio direto implementado desde 1789, este instrumento jamais foi usado para interromper mandatos, em que pesem as maiores crises políticas pelas quais tenham passado.

As tais visões liberais sobre competição livre, no Brasil, são rapidamente esquecidas quando os temas incluem os interesses dos grupos privados de comunicação. Este liberalismo de ocasião acaba exatamente onde começam as necessidades corporativas e de dominação. Somos “livres” para receber as mesmas linhas editoriais, em praticamente todos os nossos veículos de comunicação de massas, democraticamente. E se você falar em adotar leis de regulação básicas, idênticas a leis europeias e estadunidenses você quer “transformar o Brasil na Venezuela”. Ou seja, não pode reclamar e tem que achar bom.

Agora o poder judiciário é um ator político cotidiano no Brasil e chegamos ao ponto onde, imprudentemente, isto é aplaudido e comemorado. Em qualquer lugar sensato isto seria visto com a mais profunda desconfiança, mas aqui até chefe de gabinete do juiz que vai julgar o Lula pode “adiantar no face” que o resultado do julgamento será a condenação (amplamente questionada por juristas de peso) sem prova cabal, objetiva. Estamos, temporariamente, enquanto país, vivendo uma espécie de apagão da razoabilidade.

Lula é líder das pesquisas. Não se suprime uma candidatura respaldada por amplo tecido social (a saber milhões de pessoas do povo) com base na decisão de quatro pessoas em lugar nenhum do planeta! Se alguém pretende derrotar Lula, o lugar certo, numa democracia sensata, é nas urnas. A judicialização da política, amparada por excepcionalidades e manobras escancaradas não pode fazer parte do jogo democrático.

O julgamento do Lula não é pra julgar nada, é pra condenar e impedir de disputar a eleição. É por isso que o TRF-4 adiantou sete processos e correu pra marcar, bem rapidinho. É por isso que a chefe de gabinete do juiz, que devia ter uma postura sóbria e neutra, não tem vergonha nenhuma de demonstrar que as cartas já estão todas marcadas.

É claramente um julgamento político, e a história escreverá assim. Que o sujeito que foi operário, eleito e reeleito, que esteve à frente dos dois governos mais prósperos da nossa história e que liderava as pesquisas depois de bombardeio incessante da mídia, foi impedido de disputar, no tapetão. Porque senão – e farão pairar esta dúvida para sempre – ele venceria.

Lula insistirá na candidatura, mesmo após a decisão do tribunal que não consegue se conter para sequer parecer neutro. Ele faz muito bem, é correto. Ficará cada vez mais claro para a população que o jogo do plim plim é não deixar ele ter a palavra e se dirigir diretamente ao povo nas eleições.

É isso que dá medo nessa turma. É para isto que tudo o mais se faz. Defendendo e votando na Manuela d’Ávila ainda assim nós do PCdoB vamos nos pronunciar firmemente em defesa da democracia e do Brasil: Eleição sem Lula é golpe.

*Leonardo Giordano é vereador pelo PCdoB-Niterói (RJ)

FONTE: http://pcdob.org.br/noticias/leonardo-se-alguem-pretende-derrotar-lula-o-lugar-certo-e-nas-urnas/