Por Dayane Santos

Mais malhado do que Judas em sábado de aleluia, pelo segundo carnaval consecutivo Temer foi alvo de protesto dos foliões, aumentando o desgaste do governo. Diante disso, a estratégia do Planalto é tentar demonstrar que, apesar de estar em estado vegetativo, o governo pode ter algum peso no processo eleitoral.

Em matéria publicada no jornal Valor Econômico desta quarta-feira (14), sob o título “Temer ainda acredita que pode conseguir a reeleição”, fontes ligadas ao Planalto informam que Temer “é candidatíssimo”.

Pura bravata. Temer não foi eleito presidente. Chegou à Presidência por meio de um golpe contra o mandato legítimo da presidenta eleita Dilma Rousseff. Portanto, não tem legitimidade para pleitear a “reeleição”.

A matéria diz que assessores de Temer acreditam que a incerteza sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abre caminho para que Temer jogue suas fichas na reeleição. “Todo mundo é índio”, diz um assessor presidencial referindo-se às pesquisas que praticamente retiram o ex-presidente da disputa eleitoral de 2018.

A publicação diz ainda que enquanto insufla uma falsa candidatura, o governo também incentiva a candidatura do ministro Henrique Meirelles [Fazenda] “para demonstrar que o governo tem condições de apresentar um candidato”.

Com a proximidade das eleições, o governo Temer espera influir no pleito e barganhar o tempo de TV, única coisa que o MDB tem a oferecer. Para justificar o desgaste, os governistas preferem se colocar como vítimas de uma “campanha de destruição moral sem precedentes na política brasileira”, sendo essa a razão da impopularidade recorde de Temer, que chega a 90% em algumas pesquisas.

A matéria do Valor, no entanto, afirma que essa tese não encontra sustentação nem no MDB. Correligionários do partido de Temer constatam que a “campanha de destruição moral” contra Lula, que já dura três anos, não foi capaz de tirar o ex-presidente do páreo e ele lidera as pesquisas de opinião.

O jornalista do Valor, Raymundo Costa, diz que “Temer talvez seja o único dos nomes até agora pesquisados que está construindo uma narrativa capaz de sustentar um projeto presidencial”. Afirma ainda que Temer precisa apenas “apagar ou pelo menos atenuar a mancha da corrupção”.

O que Raymundo não compreendeu ou finge não compreender é que o povo brasileiro não acredita que o governo de Temer tenha uma simples “mancha da corrupção”. A tentativa do governo para reverter a imagem de que “Temer é o chefe de um governo essencialmente corrupto”, como afirma a sua matéria, é baseada numa campanha fictícia, não em fatos.

Valor diz que “os bons resultados econômicos ainda não foram efetivamente sentidos pelas classes C, D e E”. De fato, o que as classe C, D e E sentiram foram os sucessivos aumentos da energia elétrica, gás de cozinha, combustíveis, juntamente com o desemprego recorde, queda da renda e aumento da informalidade no mercado de trabalho.

O jornal disse que o governo já está tomando providências quanto a isso. O Planalto teria solicitado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) uma investigação sobre uma possível formação de cartel no varejo da gasolina, diesel e gás de cozinha.

No fundo, o governo tenta demarcar o território na corrida presidencial. Como a direita ainda não conseguiu consenso na definição de seu candidato, a tática é ocupar espaço. Apesar do apoio às reformas, tanto Geraldo Alckmin (PSDB) quanto Rodrigo Maia (DEM) buscam manter uma distância do governo, demonstrando que ambos não têm interesse em uma aliança com o governo em um ano eleitoral. Por isso, a candidatura de Henrique Meirelles não é descartada pelo governo.

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, Temer prepara uma ofensiva até abril com ações econômicas que “vão provocar uma sensação de bem-estar social”. O objetivo é ganhar fôlego e ter espaço para barganhar. No entanto, as chances de fiasco dessa tática são grandes e a cúpula do MDB já busca espaço para negociar um candidato a vice, apostando na eleição de grandes bancadas na Câmara e no Senado para voltar a dar as cartas no Congresso, a partir de 2019.

Do Portal Vermelho, com informações de agências: http://www.vermelho.org.br/noticia/307651-1