O argumento da Hydro Alunorte de que o processo de beneficiamento da bauxita para produção de alumina não contamina o meio ambiente no município de Barcarena, cai por terra definitivamente. Uma fonte interna da empresa norueguesa confirmou com exclusividade ao DIÁRIO que a presença de chumbo e outros metais pesados nos córregos e rios da região e que contaminam também o Rio Pará, que banha Belém, acontece porque a mineradora mistura cinzas de carvão coque e xisto betuminoso (altamente poluentes) de suas seis caldeiras em atividade aos rejeitos de bauxita na Estação de Tratamento de Efluentes DRS1, a mais antiga em operação.

“Esta ação da empresa de misturar cinzas do coque é antiga e recorrente. Depois de misturada à lama vermelha, as cinzas de coque são imperceptíveis, mas sua ação poluidora e tóxica é perigosa e a empresa tem conhecimento disso”, garantiu a fonte interna da Hydro. No último dia 22 de fevereiro, o Instituto Evandro Chagas (IEC) coletou amostras de água em Barcarena e o resultado apresentou números elevados de diversas substâncias nocivas, como chumbo, fósforo total, alumínio, nitrato e sódio, além da elevação da alcalinidade da águas, atestando uma situação de dano ambiental ao ecossistema local, especialmente no rio Murucupi.

À época, a Alunorte descartou qualquer contaminação proveniente de sua planta industrial. Mas reviu seu posicionamento quando, no último domingo, 18, o próprio o presidente e CEO da Hydro, Svein Richard Brandtzæg, confessou que mineradora polui o Rio Pará.

Um dos sistemas ilegais foi denunciado pelo DIÁRIO. (Foto: divulgação)

SEM LICENÇA

De acordo com a fonte, esta mistura de cinzas tóxicas e rejeito de bauxita acontece porque a empresa deveria ter um local e mecanismos específicos para fazer o tratamento do rejeito do carvão coque. Para tratar este tipo de resíduo tóxico originado das suas caldeiras, a Hydro Alunorte precisaria ter também uma licença da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), documento que ela não tem. “Como precisava obrigatoriamente descartar este resíduo, pois não poderia deixá-lo exposto, a mineradora optou intencionalmente em misturá-la aos resíduos de bauxita, assumindo, assim, o risco de contaminar o meio ambiente”, disse a fonte.

CONTAMINAÇÃO

A fonte interna da Hydro chama atenção de que a contaminação das águas em Barcarena pode ir bem além do Rio Murucupi, rio mais próximo da planta industrial da Hydro Alunorte, como demonstrou a primeira pesquisa IEC. “Parte desta lama tóxica vem sendo despejada há tempos nos rios da região”. A fonte acredita que uma pesquisa mais aprofundada possa demonstrar futuramente que metais pesados devem ser encontrados em praias mais distantes, como Beja e Vila dos Cabanos. “O maior temor da Hydro Alunorte hoje é saber que a população impactada pela contaminação é bem maior do que as comunidades existentes próximos à planta da fábrica em Barcarena”, argumenta a fonte.

Confissão de despejo de resíduos sem tratamento foi feita por Svein Richard Brandtzeg. (Foto: reprodução)

EMPRESA CONFIRMA QUE POLUI RIO PARÁ

No último domingo, 18, o presidente e CEO da Hydro, Svein Richard Brandtzæg, comunicou em nota oficial que a empresa norueguesa, de fato, vem contaminando o rio Pará com resíduos não tratados do beneficiamento de bauxita em sua planta industrial em Barcarena.

A confissão do líder mundial da empresa de mineração aconteceu depois que o DIÁRIO denunciou com exclusividade em sua edição do dia 11 de março que a Hydro Alunorte despeja, através de um canal antigo, resíduos não tratados da sua refinaria de bauxita no rio Pará, que banha Belém

A nota também retificou que o descarte de resíduos nada tem a ver com os excessos de chuvas na região, conforme informou a empresa à época da publicação da reportagem.

Na nota, divulgada pela assessoria de comunicação, Svein Richard Brandtzæg diz que, “em nome da companhia, pessoalmente peço desculpas às comunidades, às autoridades e à sociedade. Isso ressalta a importância de uma revisão completa da Alunorte”.

AUDIÊNCIA PÚBLICA

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e o Ministério Público Federal (MPF) realizam hoje, a partir das 14h, uma audiência pública, na Igreja Assembleia de Deus, em frente à praça de alimentação, no bairro dos Cabanos. O objetivo da audiência é informar a população sobre as ações dos MPs e as propostas para composição de um Termo de Acordo voltado a ações emergenciais, que devem ser adotadas em relação às denúncias de vazamento de efluentes da empresa. A audiência serve como um instrumento para diálogo com a comunidade afetada para a coleta de críticas e sugestões, o que deve subsidiar as ações dos órgãos.

(Mauro Neto)

FONTE: http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-495510-.html