Francisvaldo Mendes, presidente da Fundação Lauro Campos

Na noite do domingo, dia 2 de setembro de 2018, as pessoas se viram estarrecidas com o incêndio no Museu Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Um acervo de aproximadamente 20 milhões de itens, que apresentam momentos de gerações brasileiras, relações culturais e formas históricas do processo de produção, foi jogado fora. A causa do fogo, seja ela especificamente qual for, demonstra como o Estado, no Brasil, está de braços dados com a ignorância. O contrário disso seria o necessário investimento no cuidado, em formas de prevenção, em condições de manutenção, para se proteger das casualidades da vida, que todo o tempo ocorre. No entanto, a preferência está clara e evidente, pois o Estado investe no privado e cuida do lucro.

Mais que um museu, ali funcionava um centro de pesquisa, de organização do conhecimento acumulado, gerido pela UFRJ. Tratava-se de um polo de saber, que toda a comunidade deveria participar e atuar para que ao público fosse dedicado e com o público organizado. Para isso caberia ao Estado provir condições, das básicas às mais complexas existente no século XXI, para que o conhecimento encontrasse caminhos de avanço. Mas nada foi feito, o que piorou profundamente com o governo golpista de Temer.

Mas ao contrário dos investimentos que deveriam existir, o que se constatou, com o lamentável fato ocorrido no domingo, foi que o Museu, a escola, o que deveria ser ponto de encontro para fazer girar o conhecimento estava largado. O exemplo máximo de tal situação foi o fato de que nem os hidrantes, próximos ao museu, tinham água para combater o fogo. Hidrante sem água é só uma mercadoria de metal sem nenhuma serventia. mesmo que tratar as fotos, representações, espelhos de gerações, símbolos, existentes no Museu, apenas como uma figura qualquer. Dessa forma não podem assumir a importante função de colaboração para organizar o que foi acumulado no tempo, muito menos o conhecimento que, desse processo, possa ser criado para contribuir na construção uma vida melhor.

O mais antigo museu do país, com tempo bicentenário em seus acúmulos e conteúdos, desde quando foi destinado aos cuidados da Universidade Federal do Rio de Janeiro, possuía grande possibilidade de ser um ponto forte de apoio ao conhecimento. Tratava-se de um salto importante, organizar esse acúmulo junto à academia e ao conhecimento, fundamental para a população acessar o percurso do tempo no Brasil, para os estudantes da UFRJ organizarem o conhecimento e para os cientistas avançarem em produção acadêmica. Mas para isso, por sua vez, demandava-se que o Estado no Brasil investisse, com aportes e condições para que tal processo ocorresse. Fato que nunca aconteceu. Na verdade, investimentos em conhecimento e melhoria da vida, seja em que aspectos e dimensões possam ocorrer, encontra no governo golpista atual desvios para ampliar o lucro dos empresários. 

No mês de junho, com os 200 anos completados, houve uma assinatura para uma verba de 21 milhões destinada à prevenção de incêndio. Evidente que isso entra para um registro que amplia a sombra que o Estado no Brasil impõe a sociedade. Cultura, história, organização de conhecimento, fica jogado às traças pois, lamentavelmente o lucro persiste acima da vida. Esse criminoso e lamentável fato só tem um responsável: o Estado e o seu gerente atual, o governo de Temer.

FONTE: https://www.laurocampos.org.br/2018/09/03/o-que-representa-esse-incendio-no-museu-nacional/