Entrevista com Silvia Giese, do movimento Juntas, sobre o ato político do dia 29/09/2018 pela democracia e contra o candidato do fascismo no Brasil.

Silvia, irão ocorrer no próximo dia 29, atos no país inteiro, protagonizado pelas mulheres, contra a ascensão do fascismo e o projeto político que ele se apresenta nessas eleições. Como surgiu a ideia dessa mobilização e quais as perspectivas do movimento para essa luta?

Embora a pauta seja recente e as mulheres estejam tomado o protagonismo do movimento contra Bolsonaro, não caracterizamos as mobilizações enquanto movimentos recentes ou uma ideias isoladas. Desde 2015 as mulheres vêm se fortalecendo, construindo barricadas fundamentais de resistência contra o conservadorismo e as políticas reacionárias implementadas pelo congresso, mediante as bancadas evangélicas, da bala e do ruralismo. Como em 2015, quando as redes foram tomadas contra a tentativa de restringir o uso da pílula implementada na época por Eduardo Cunha, o que o ocorreu foi espontâneo, de mulheres cansadas das declaracoes misóginas, racistas, retrógradas e de cunho fascistas dadas por Bolsonaro. Com os atos marcados em todo o país, tivemos a certeza de que a primavera feminista que ascendeu e derrotou o Cunha está viva e pronta para novamente tomar as rédeas do jogo, lutando para derrubar Bolsonaro e para alertar a sociedade do perigo que é esse projeto político de extrema-direira não somente para as mulheres, mas especialmente, sendo mais danoso ainda para as mulheres negras e trabalhadoras.

Quais perigos reais, no sentido da perda de direitos, a candidatura de Bolsonaro, caso seja eleito, representa para a luta das mulheres?

A realidade das mulheres no Brasil, com um congresso majoritariamente branco, masculino, heterossexual e elitista, não é e nunca foi fácil. Nossos direitos, conquistados com muita luta, estão constantemente ameaçados pelos políticos que defendem que o nosso lugar é em casa, submissas. Há um sentimento de cunho patriarcao e escravocrata muito forte contra as mulheres, e nos sabemos que com Bolsonaro nao ha chance nenhuma dessa realidade ser modificada – pelo contrário, acreditamos que seu projeto incita na população a naturalização das violências sofridas por nós, como as consequências da cultura do estupro, defendida e ironizada por ele inclusive. Além disso, existem demandas urgentes do movimento de mulheres que necessitam comprometimento e compreensão ampla do poder público, como a legalização do aborto, a revisão de direitos ja adquiridos a fim de torná-los acessíveis a todas as mulheres, equiparação salarial, etc. Sabemos que Bolsonaro, uma vez que não reconhece essas demandas e naturaliza as violências que sofremos, será incapaz entrar em ressonância com o movimento feminista.

Aqui no Pará, você e seu movimento JUNTAS, fazem parte da organização do ato. Que balanço fazem até aqui sobre a construção do ato e o que podemos esperar do dia 29 em Belém?

O ato ganhou grande repercussão nos últimos dias e praticamente todas as capitais nacionais ja tem atos agendados para o dia 29. Acredito que as mobilizações nas redes sociais têm impulsionado a auto organização das mulheres e, sem dúvidas, milhares de mulheres, jovens, LGBTs, negras e negros, defensores dos direitos sociais e humanos ocuparão as ruas, será enorme. Em Belém, os atos feministas pós junho de 2013 adquiriram caráter horizontal e lúdico, com muita palavra de ordem e participação de mulheres de todas as idades. Acreditamos que seguirá nesse formato, com um volume maior ainda do que os últimos atos da cidade.

Silvia, faça um convite as mulheres e aos homens que acompanham nosso portal a se somarem nas ruas de Belém no próximo dia 29 e se unirem com as milhares em luta contra o retorno do fascismo!

Renovar a política é urgente. É importante entender que Bolsonaro representa um projeto excludente, fascista, reacionário e opressor de poder, no qual nós – mulheres, LGBTs, a negritude, os povos tradicionais, trabalhadores, enfim, o POVO – não temos espaço; pelo contrário, um projeto que prevê a retirada dos nossos direitos. Nós precisamos lutar. Precisamos conversar com nossos colegas e familiares, tentar convencer quem está indeciso, rememorar a história da humanidade, disputar a política fora das urnas também. Portanto, as ruas são o nosso lugar. Vamos todas dia 29 demonstrar nossa força e dar um recado aos fascistas: estamos atentas. Estamos alertas. Estamos em movimento. Nós podemos, como fizemos com Cunha, derrotar esse projeto imundo de sociedade proposto por Bolsonaro, Mourao e seus apoiadores regionais. Vamos Juntas! Nosso mote, do Juntas!, é que a luta das mulheres muda o mundo. E, de fato muda, como nas ocupações de escolas em 2016, como na primavera feminista Argentina pela legalização do aborto, como na luta por Nem Uma a Menos em todo o planeta e como na luta das mulheres estadunidenses contra Trump. Juntas somos mais fortes. Juntas conseguiremos derrotar Bolsonaro!