Atividade reuniu mais de 60 pessoas na ocupação cultural Galpão da Lua neste fim de semana.

Por Frente Brasil Popular/Presidente Prudente

 

Na antiga linha ferroviária de Presidente Prudente, militantes de diversas organizações participaram da primeira etapa municipal do Congresso do Povo Brasileiro, no último sábado (22). A atividade, organizada pela Frente Brasil Popular do mesmo município, é parte do conjunto de ações realizadas na região do Pontal do Paranapanema e coloca a arte como campo de posicionamento político, ao ser realizada no Galpão da Lua, ocupação urbana de um conjunto de coletivos de arte de Presidente Prudente.

Luana Barbosa – Lua – foi uma atriz da Federação Prudentina de Teatro assassinada pela polícia militar em uma blitz quando estava de moto com seu namorado, há três anos. A perda de uma dedicada militante do campo da cultura significou muito para os movimentos sociais da região e, um ano após sua morte, o Coletivo Galpão da Lua juntou sua indignação pela impunidade do crime contra a vida de Luana com a necessidade de um espaço para a realização de suas atividades artísticas por conta do preço abusivo do aluguel.

Lua permanece carinhosamente presente, na memória do Galpão da Lua e também no Congresso do Povo, quando a arte comparece como elemento de expressão das dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora e pela ocupação de prédio urbano como elemento concreto dessa realidade. E é justamente nas antigas linhas de trem, onde se localiza o Galpão, que o Congresso do Povo se projeta como momento de debater as situações que estamos enfrentando de forma coletiva, com a organização dos movimentos e coletivos que compõem a Frente Brasil Popular na região: Levante Popular da Juventude, MST, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Coletivo Galpão da Lua, Coletiva LUTA, PT e outros setores sindicais.
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Desde a manhã do dia 22 já havia movimentação no espaço para preparação do Congresso, juntamente com a Feira da Reforma Agrária, realizada mensalmente por assentados do MST no Pontal do Paranapanema, bem como a venda de livros da Expressão Popular com militantes do Levante Popular da Juventude.

A mística inicial introduziu o elemento histórico do nosso país, de mais de quinhentos anos marcados pela exploração do povo brasileiro e apresentando a organização como uma única saída possível para enfrentar os problemas da classe trabalhadora. Em seguida, a militante do Levante Popular da Juventude, Jane Rosa, contextualizou os presentes sobre o que é o povo brasileiro, a crise econômica que enfrentamos desde 2008 refletida sobre outras dimensões da vida e deu início aos debates em grupo, a partir das questões norteadoras do Congresso: “quais os problemas do povo brasileiro?; quais as causas desses problemas?; e as soluções?”

Os apontamentos foram de diversas escalas, desde questões na dimensão dos bairros, como postos de saúde e escola, até demandas para todo o território nacional, como investimentos em políticas sociais. A síntese apresentada pelos grupos foi feitas em grande parte por mulheres jovens, e até mesmo em forma de poesia.

São tempos difíceis de se sobreviver
Tempos difíceis de lutar e se levantar
Um mundo que impõe muros de espinhos que nos tiram o direito de se estabilizar
Nos arrancam os cabelos
Nos apedrejam nas ruas
Nos insultam sem culpa
Sem o peso da mente de esgoto ao deitar em seus travesseiros sem devaneios
Império de poder que pisa em quem persiste em se manter em pé
Sem se importar com quantas famílias irão derrubar.
Até que seu trono burguês venha a se aperfeiçoar
Mas a união no levante se concentra no congresso do povo
Junto com a frente do Brasil popular
Junto com todos que nos apoiar em nossa luta se identificar
Somos a juventude
Fazemos parte do povo
Nós somos o povo
E juntos vamos construir um Brasil novo 

(Lyon Gabriel)

Colocar para o próprio povo discutir seus problemas é uma tarefa importante deste espaço, mas é principalmente na busca pela saída da crise, do desemprego, e das questões enfrentadas de forma organizada e soberana o principal desafio do Congresso do Povo, pois historicamente as elites sempre apontaram suas fórmulas de lidar com a situação.

“Desde que o Brasil é Brasil a solução para a crise pelas elites é atacar os nossos direitos, é explorar o povo brasileiro para aumentar sua taxa de lucro.” afirma Jane Rosa. Por isso, o Congresso do Povo se apresenta como processo para debater coletivamente esses problemas: “A gente entende que a saída da crise ela se dá pelas respostas e pelo protagonismo do povo brasileiro, porque a crise nos afeta. A gente pode construir o projeto de nação que não é o projeto de nação das elites”  , conclui.

Além da poesia, intervenções de teatro e de música deram o tom do recado de mudança protagonizado pelo povo.

O congresso do povo enquanto processo 

Apesar de ser a primeira etapa do Congresso do Povo, desde o início do ano a Frente Brasil Popular vem realizando e acompanhando o processo de mobilização para fortalecer o debate sobre o projeto de país almejado.

No início de agosto (11), aconteceu a etapa municipal do Congresso em Tupã, município do oeste paulista, com participação do PCdoB, Levante, PT, Apeoesp, Sinasefe, Sintaema, Associação de moradores, movimentos sindicais da cidade, Frente de Esquerda de Paraguaçu Paulista e acompanhada pela Frente Brasil Popular de Presidente Prudente, reunindo cerca de 50 pessoas.

Ainda em agosto, no dia 29, houve o Encontro regional da militância do MST, em Teodoro Sampaio, também concebida como processo do Congresso do Povo, com a presença de parlamentares apoiadores da reforma agrária. Neste dia, foi debatido a situação das políticas públicas para os assentamentos, a paralisação da Reforma Agrária, acampamentos, agroecologia, e o Congresso do Povo como parte do processo de mobilização e politização da classe trabalhadora frente às eleições e aos retrocessos do golpe de 2016. O encontro reuniu quase 200 pessoas, entre assentados, acampados, militantes do PT, Levante, CUT e estudantes da Unesp de Presidente Prudente.

Uma semana antes do Congresso do Povo em Presidente Prudente (15), foi realizado o Festival de Cultura do Povo no Conjunto Habitacional João Domingo Netto, um dos maiores conjuntos habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida no município. O Festival conseguiu reunir mais de 70 pessoas e contou com a apresentação de vários artistas da cidade de Prudente em diálogo com a metodologia do Congresso.

O desafio segue de continuar acompanhando o Congresso do Povo nos municípios do Pontal do Paranapanema, como parte do processo de politização deste período eleitoral, mas principalmente de colocar o povo organizado como protagonistas do debate de projeto de país e da transformação social.

*Editado por Rafael Soriano

FONTE: http://www.mst.org.br/2018/09/25/debate-politico-atraves-da-arte-e-parte-da-primeira-etapa-do-congresso-do-povo-em-presidente-prudente.html