Em entrevista, candidato do PT fala sobre a necessidade de fortalecimento da América Latina
Durante sua passagem por Pernambuco no último fim de semana, o candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Fernando Haddad visitou a capital Recife – onde reuniu multidão junto à sua vice Manuela D’Ávila (PCdoB) –, além de Caruaru e Petrolina. Enquanto realizava visita ao assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Caruaru, o candidato petista concedeu entrevista à Televisão do Sul (Telesur), rede de televisão multi-estatal formada por países latino-americanos.
Telesur – Haddad, você pode nos explicar em que contexto se dá a sua candidatura para esta disputa eleitoral aqui no Brasil?
Fernando Haddad – Bom, nós resistimos até o último minuto na candidatura daquele que queríamos reconduzir ao Palácio do Planalto, que é o presidente Lula. Tivemos sucesso junto à Organização das Nações Unidas, a ONU, para que Lula fosse candidato. No entanto, as autoridades brasileiras decidiram rejeitar um tratado internacional aprovado pelo nosso Congresso e indeferiram o registro da candidatura de Lula. Diante dessa circunstância, nós lançamos uma chapa formada por mim e Manuela D’Ávila. Vamos disputar a presidência porque nós temos o mesmo projeto, validado pelo presidente Lula, que entendemos que é o projeto que representa a grande maioria do povo brasileiro. Para não deixar o povo brasileiro sem alternativa, nós recolocamos esse projeto na disputa presidencial. Porque, na verdade, o que de fato importa, são as ideias que nos movem. E o Lula está conosco nessa jornada. Nós estamos crescendo, nós já estamos assustando o outro lado, eles não esperavam por isso.
Telesur – Haddad, os governos de Lula e Dilma Rousseff foram muito importantes para a região latino-americana, para a integração. O que você pretende, uma vez elegido para presidente da República, com relação ao Mercosul e aos acordos dessa região, como a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Como será a integração com um novo governo do PT?
Haddad – Olha, eu estou convencido, pessoalmente, que nós vamos ter que radicalizar a integração. Não é mais tempo de medidas laterais, medidas marginais, nós temos que integrar para valer. Chamar nossos parceiros à mesa e dizer que o mundo está muito complicado. Estados Unidos, China e União Europeia, está tudo muito complicado. Se a gente não tiver força para negociar, nós vamos ser engolidos por esses três titãs. Nós temos que ter força e sozinhos nós não teremos. O Brasil é grande, mas ele não é suficiente para a gente enfrentar a concorrência internacional. Então, Argentina, Paraguai, Uruguai e mais os outros cinco Estados latino-americanos que têm já dado passos importantes, vão ter que acelerar agora.
Telesur – Haddad, por fim, nós estamos aqui em um assentamento do MST. Qual a política para os homens e as mulheres do campo, que são afetados diretamente por essas políticas de Michel Temer nesse momento?
Haddad – Nós vamos sobretaxar a propriedade improdutiva. Um país desse tamanho, ter gente sem-terra, com latifundiário que não produz nada? Isso aí nós vamos sobretaxar. Nós vamos criar um imposto rural progressivo no tempo. Quanto mais tempo passar sem produzir, mais imposto vai pagar. E, se desmatar onde não pode, enquanto não reflorestar, vai pagar o imposto progressivo no tempo também. Porque nós queremos desmatamento zero, porque nós não precisamos de terra agora. O que nós precisamos é distribuir melhor a terra que já está desmatada e evitar novos desmatamentos. Com o imposto progressivo no tempo, nós vamos conseguir atingir esses dois objetivos: produzir mais alimentos, sem a necessidade de cortar uma árvore.
Edição: Monyse Ravenna