A paralisação, que deve deixar oito mil desempregados, segundo a Hydro, preocupa o Governo e trabalhadores. Para liderança quilombola de Barcarena, representa ‘fim de riscos à saúde e ao meio ambiente’.

Por Taymã Carneiro, G1 PA

suspensão de 100% das operaçõesda Hydro em Barcarena e Paragominas, no Pará, surpreendeu o Governo do Estado, que considerou a decisão ‘radical’. Segundo a própria empresa, cerca de 8 mil empregos devem ser afetados, direta ou indiretamente. Para a categoria dos trabalhadores da indústria, o desemprego deve afetar mercado e economia da região.

Já para as comunidades vizinhas das fábricas, é o ‘fim de grandes riscos à saúde das pessoas e ao meio ambiente’, segundo a ativista Maria do Socorro Silva. “Queremos nossa saúde de volta e o meio ambiente. Só queremos viver dignamente. A indústria só acabou com nossas atividades extrativistas, nossa identidade”, afirmou.

Em entrevista ao G1, Ismael Moraes, advogado da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), que reúne lideranças comunitárias de Barcarena, afirmou que a decisão “prova que a empresa não está apta a trabalhar na legalidade” e que “precisa readequar o processo industrial a licenciamentos legais”.

Moraes disse que a refinaria da Hydro “não consegue operar sem despejar rejeitos sem tratamento direto no meio ambiente”, o que, segundo ele, comprovaria a incapacidade das bacias DRS1 e DRS2 de receber e tratar os resíduos de bauxita produzidos nas duas indústrias – a mineradora Albras e a refinaria Alunorte.

“Uma vez descobertos os dutos clandestinos que despejavam no Rio Pará e Igarapés, a Hydro não consegue garantir a segurança das barragens. Por isso, precisa paralisar para corrigir erros, que podem levar até a mais prejuízos”, afirmou.

Refinaria Hydro Alunorte suspende operações no Pará

Refinaria Hydro Alunorte suspende operações no Pará

A refinaria em Barcarena e a mineradora em Paragominas estavam operando com 50% de produção desde março, por determinação da Justiça após denúncias de despejo irregular de resíduos em rios e igarapés, causando danos ao meio ambiente e à população local. Os incidentes ocorreram nos dias 16 e 17 de fevereiro. Chovia bastante na período o que fez com que a empresa despejasse efluentes não tratados no leito do rio Pará para diminuir a pressão e o volume de água de chuva sobre o Depósito de Resíduos Sólidos 1 (DRS1).

Na manhã de quarta (3), a Hydro anunciou que decidiu suspender operações após verificar que a área do DRS1 está próxima de atingir a capacidade e atribuiu isso ao embargo, que impediria o uso do filtro prensa e da recém-desenvolvida área de Depósito de Resíduos Sólidos (DRS2), que representam investimento de mais de R$ 1 bilhão. Oito mil trabalhadores devem ser afetados, direta e indiretamente.

Ainda segundo a empresa, devido ao embargo, a refinaria foi forçada a operar apenas o DRS1, que foi originalmente planejado para ser encerrado. A paralisação deve ocorrer, segundo a Hydro, de forma gradativa, dentro de 60 dias.

Impactos da suspensão

Governo reúne com representantes da Hydro no Pará, após anúncio de suspensão.

Governo reúne com representantes da Hydro no Pará, após anúncio de suspensão.

A suspensão deve afetar aproximadamente oito mil trabalhadores de forma direta e indireta, segundo a Hydro. Em nota divulgada na noite de quarta, o Governo disse que “vê com preocupação o impacto da paralisação” sobre a quantidade de empregos e prejuízos econômicos. A nota informou que o governador chegou a apelar à companhia para que tome medidas de contenção.

O titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Eduardo Leão, afirmou que são produzidas seis milhões de toneladas de alumina e 400 mil de alumínio primário, o que representaria um “impacto significativo que o Estado deixará de arrecadar”.

“A empresa está fazendo estudos para que as atividades sejam retomadas o mais rápido possível; para que não percamos empregos, paremos a produção; para que não tenha nenhum tipo de problema com a comunidade”, afirmou o secretário.

O presidente do Sindicato dos Trabahadores nas Indústrias Extrativistas, Valdete Negrão, disse que o impacto será ‘grande’ para a categoria e que já um grande grupo de desempregados em Paragominas, onde a Hydro extrai minérios.

“Vivemos um momento de milhões de desempregados. Aqui já há um grupo muito grande. O impacto (da suspensão) no mercado e no comércio será grande, pois como ficam as nossas famílias com essa notícia? Esperamos que as autoridades consigam derrubar o embargo para que a gente volte à produção”, afirmou.

Na reunião com o Governo, na última quarta (3), a Hydro disse que pretende continuar no estado e que, derrubando o embargo da Justiça, “deve retomar as operações em toda a cadeia”.

No entanto, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) alegou que o uso da tecnologia requer licença específica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e que concedeu à Hydro apenas licença provisória para instalação do filtro. A autorização foi suspensa pelo Ibama.

A respeito da conduta da norueguesa, o procurador-geral Ophir Cavalcante afirmou, durante a reunião na quarta, que o “Estado não vai abrir mão” dos acordos assinados. A empresa se comprometeu a investir R$R$250 milhões em ações em pelo menos 20 comunidades.

Danos ao meio ambiente

Nos dias 16 e 17 de fevereiro deste ano, resíduos de bauxita contaminada vazaram da Hydro Alunorte para o meio ambienteapós fortes chuvas em Barcarena. Após uma vistoria com a presença da procuradoria do Ministério Público, foi identificado uma tubulação clandestina que saída da refinaria e despejava rejeitos que contaminaram o solo da floresta e rios das localidades próximas. Ainda foram encontradas outras duas tubulações ilegais que tinham a mesma finalidade.

A empresa recebeu sanções da Justiça que determinou a redução de sua produção em 50% até que sejam resolvidos os problemas das comunidades atingidas pela contaminação e sejam resolvidos os problemas para a captação dos rejeitos das bacias durante as fortes chuvas que caem regularmente na região, além de ter condenado a empresa a pagar R$ 150 milhões por danos ambientes.

O Instituto Evandro Chagas realizou coletas de solo e água nas comunidades que ficam ao redor da Hydro e após análise em laboratório foi constatado alteração nos elementos químicos presentes no solo, além da presença de metais pesados e cancerígenos como chumbo. A Hydro encomendou um estudo que refutou as análises do IEC e negou que houve contaminação.

FONTE: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2018/10/04/suspensao-no-pa-demonstra-que-hydro-nao-consegue-operar-na-legalidade-diz-advogado-de-comunidades-afetadas.ghtml