Francisvaldo Mendes, presidente da Fundação Lauro Campos

As eleições de 2018 são de um diferencial significativo na vida das pessoas. Quem possui mais de 50 anos guarda a lembrança da ditadura militar no Brasil. As outras pessoas possuem lembranças de um país sem ditadura militar. Levando-se em conta que a população brasileira se divide em três grandes faixas de idade – jovens até 19 anos; adultos dos 20 aos 59; idosos a partir dos 60 – e que tal diferenciação etária, segundo o IBGE, se divide estatisticamente em jovens e adultos com 90,7% e 9,3% são de idosos, a lembrança do tempo vivido durante a ditadura militar é a menor.

Por outro lado, a vida com internet no Brasil, modificou hábitos de aproximadamente 90% da população. Os jovens, mais de 40% hoje, foram formados com os equipamentos e as linguagens desse ambiente digital, com o celular na primeira fileira e as leituras rápidas, fotos, memes, vídeos, tomando a maioria dos sentidos. Não são os livros, assim como não é a leitura do conhecimento acumulado, que predomina na vida das pessoas. Na verdade, no Brasil, a leitura e os estudos do conhecimento acumulado nunca foi predominante. Mas hoje se vive um período que nem os jornais impressos e nem mesmo a Televisão ocupam o principal espaço de tempo das pessoas, muito menos o rádio (principal comunicação popular do passado). Mas pode-se arriscar dizer que somente um meme, uma mensagem de alguns caracteres, desenhos, fotos, vídeos – facilmente produzidos e editados no próprio celular – predominam e, pior, são travestidos em conhecimento. A inverdade supera a verdade facilmente e em múltiplas dimensões. Não é por menos que os tais fake news estão em primeiro lugar na organização política na vida das pessoas. Vale uma informação, mesmo correndo o risco que todas as pessoas saibam, a tradução de fake news é notícias falsas.

Agora, em outubro, na véspera de iniciar a terceira semana, a segunda depois da votação do primeiro turno em eleições quase gerais, com um dos candidatos tratando normal não ir ao debate, agredir verbalmente as pessoas, não respeitar minimamente as diferenças e ainda ser ponto fixo de uma (im)possível democracia, é algo muito assustador. O medo vai tomando as mentes e corações com mais força e predomínio a cada dia.

Vale refletir sobre o que foi o saldo eleitoral do primeiro turno, para além de olhar somente para o PSOL na Câmara e nas Assembleias Legislativas. Na Câmara ampliamos para dez cadeiras, pois ocupávamos seis. Por sua vez, a sigla partidária do Bolsonaro, PSL, que eleição passada elegeu apenas 1 deputado, nessa fez 52, a segunda maior bancada da Câmara. O principal ambiente da política federal do país, terá a presença de 30 siglas das 35 registradas no TSE, continuará com conservadores como maioria e, para piorar, haverá predomínio dos reacionários.

O PSOL ultrapassou a clausula de barreira, obteve mais de 1,5% dos votos válidos para Câmara em nível nacional e chegou, em mais de nove Unidades Federativas, com pelo menos 1% dos votos válidos em suas candidaturas. Ou seja, até 2022, significa que o partido terá direito aos rateios do fundo partidário e do tempo de TV. Agora, para além do Rio de Janeiro, São Paulo e Pará, o PSOL contará com parlamentares de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Não se pode deixar de registrar que, mesmo diminuindo o número de cadeiras de 69 eleitos na eleição passada para 56 na eleição atual, o PT foi a sigla partidária que mais elegeu deputadas e deputados.

Nessa passarela que pode ser argumentada como democracia, pelo fato das pessoas votarem, o cenário que aponta para o próximo ano é desfavorável para o significado do termo. Caso o candidato da legenda PSL ganhe as eleições, o povo brasileiro viverá uma ação de estética e práticas autoritárias, com um modelo que ampliará o predomínio neoliberal com apoio da Câmara. Caso contrário, ainda que se derrube a estética autoritária e o modo reacionário de dirigir, haverá uma Câmara e um Senado combatendo qualquer fresta que aponte para enfrentar desigualdades e o neoliberalismo. Passagem com marcas democráticas que apontam para futuros com baixos odores da democracia.

Nós do PSOL não tivemos dúvidas, apoiamos Haddad. Faremos de tudo para transformar os votos aos parlamentares do partido, ao Bolos, às nossas candidaturas, buscando sempre ampliar, em possibilidade de um ambiente que favoreça conquistar mais democracia e qualidade de vida. Sabemos que os próximos anos serão de muitos desafios. Formação, mobilização, participação das pessoas nos mandatos e construção de um novelo unificado partidário, avançando para um PSOL fortalecido e unitário, despersonalizando ao máximo nossas fileiras e ampliando a organização coletiva, será um grande desafio e que vamos fazer de tudo para construir. Mas, também sabemos, que nesse momento, será mais favorável para o futuro e para o presente, derrotar a xenofobia e toda estética da guerra com compromisso com o capitalismo que vem com a figura que representa a sigla PSL e seu candidato. Por isso, nesse momento, faremos de tudo para garantir a unidade e a mobilização para que Haddad seja o vitorioso no segundo turno das eleições.

FONTE: https://www.laurocampos.org.br/2018/10/15/as-eleicoes-e-a-democracia-qual-futuro/