O crescimento da extrema-direita, retratado em desempenho eleitoral, número de cadeiras nos parlamentos, conquista de governos de países, apoio e engajamento de base social, inclusive de contingentes da classe trabalhadora, é um fenômeno mundial que passa a ocorrer desde 2007-2008, no início da grande crise mundial do capitalismo.

Por Adalberto Monteiro*

Autores marxistas, desde o início do século passado, notadamente Lênin, já haviam apontado que, para o capitalismo no seu estágio imperialista, sobretudo em momentos de crise, a democracia é conflitante e mesmo incompatível. Os estudos sobre a ascensão no nazi-fascismo no bojo da Grande Depressão iniciada em 1929 demonstram sobejamente isto. Houve é certo uma data anterior, 2001, que abriu as comportas do ideário, de políticas e práticas da extrema-direita. A insegurança e o medo decorrentes de atentados terroristas, notadamente o das Torres Gêmeas, deram margem ao surgimento da Guerra ao Terror, quando são subtraídos direitos individuais e a soberania dos países é relativizada.

Alguns exemplos do crescimento da extrema-direita no mundo. A eleição de Donald Trump (2016); e a de Rodrigo Duterte, nas Filipinas, em 2016. No ano seguinte, em 2017, Marine Le Pen obteve quase 34% no segundo turno das eleições presidenciais francesas, nas quais sagrou-se vencedor um candidato de direita outsider Emmanuel Macron, com um dito “neoliberalismo de rosto humano”; em 2017, a extrema-direita alemã, aglutinada na legenda Alternativa para a Alemanha (AfD), num feito inédito no pós-guerra, obteve quase 13% dos votos, conquistando 90 cadeiras no Bundestag, o parlamento alemão. Com tonalidades distintas, a extrema-direita também governa a Hungria, a Itália, a Áustria e a Polônia.

Esse crescimento da extrema-direita em cada país se deu por um processo cumulativo decorrente dos efeitos da crise mundial do capitalismo e de singularidades da luta de classes que eclodiu em cada um deles. A recessão foi seguida de estagnação econômica e de crescimento medíocre, acompanhados de altos índices de desemprego e da implementação das políticas de austeridade sintetizadas em corte de direitos trabalhistas e direitos sociais, enquanto o Estado, sob controle dos rentistas, manteve no essencial os fabulosos ganhos da banca. Essa realidade provocou um forte descrédito das amplas massas no status quo político-partidário e das instituições existentes.

A vitória de Jair Bolsonaro, da extrema-direita, faz parte de um fenômeno mundial. A questão é desvendar como a extrema-direita se gestou, prosperou e triunfou na 8ª economia mundial, no maior país da América Latina. E o que é mais intrigante: depois de um ciclo de 13 anos de governos progressistas.

O retrocesso que ocorreu no Brasil ocorreu no âmbito de uma contraofensiva do imperialismo estadunidense na América Latina, em particular na América do Sul. Hoje, a direita governa Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Equador. A Venezuela enfrenta forte processo de instabilidade e cerco.

Na próxima parte, abordaremos a singularidade a irrupção e vitória eleitoral da extrema direita no Brasil.

 *Adalberto Monteiro é jornalista, poeta e Secretário de Comunicação do Comitê central do PCdoB.

FONTE: http://www.vermelho.org.br/noticia/317105-1